A tecnologia e seus alcances

Crônica

Estava eu de viagem, outro dia, nas imediações da praça do Carmo e, deitados no chão, sobre colchões e papelões, cobertos com lençóis, sob a sacada de um prédio, um jovem, que dormia e uma jovem, supostamente marido e mulher. Ela sentada no chão com o corpo em arco recostado na parede com as pernas nuas acima do joelho para baixo.

Esta cena é antiga e faz décadas que conheço esta realidade das grandes metrópoles, mas uma coisa chamou-me a atenção. Almoça sentada no chão e recostada na parada da sua "casa" não via as pessoas que passavam em sua frente.

De um rosto jovial, aparência bela, aquela moça, com aparelhos nos dentes e sorriso farto, pois estava a sorrir para o seu aparelho celular como que interagindo com alguém virtualmente.

As condições me dizem que seriam mendigos. Seriam? Não sei ao certo. Não estou a recriminar a situação da pessoa desta crônica, que também é digna tanto quanto todo mundo, porém, os traços descritos, da sua boca, aparelhos dentários e o celular, são acessórios, considerados de pessoas de posse. Entretanto há de se considerar que algumas cidades oferecem serviços sociais para todos e algumas oferecem odontologia completa às pessoas, principalmente as mais vulneráveis. A condição social, embora seja considerada a de miserável, para quem mora na rua, não significa que um mendigo não possa possuir um aparelho celular e conseguir internet, pois existem pontos com internet livre em algumas praças. Em fim. Este é o mundo tecnológico que consegue conectar todas as classes sociais, embora não seja privilégio de todos.