A DESCONHECIDA

Numa tarde dessas, no setor de crediário de uma loja de departamento, eu me senti uma psicóloga, ou um padre no confessionário, ou uma amiga de longas datas de uma mulher que na verdade eu nem conhecia. Ela se sentou na cadeira ao lado da minha, enquanto esperávamos a vez de sermos atendidas. Não demorou muito, ela se virou para mim e começou a contar intimidades da vida dela junto ao namorado, cujo namoro só tinha 6 dias!

Contou-me que, em tão pouco tempo, ele já pediu para ela dinheiro emprestado, o que achei estranhíssimo. Disse que observou manias esquisitas, como a de ficar catando o tempo todo cabelos que caem no chão da casa dela. Falou que ele demorava a responder as mensagens que ela mandava pelo WhatsApp e que havia ouvido conversas suspeitas a respeito da ex-mulher dele. Contou isso, contou aquilo e muito mais. Eu que não sou de falar muito, tampouco com estranhos, ouvia a mulher, fazia cara de espanto em alguns momentos, dava alguns poucos palpites, e só.

Ela era uma mulher já madura, na casa dos quase 50 anos. O quase monólogo terminou quando a atendente da loja me chamou. Não mais a vi quando o meu atendimento foi concluído. Ao voltar para casa, fiquei pensando o que leva uma mulher a contar tantos detalhes de sua vida para alguém desconhecido. Será que ela age dessa forma com as pessoas amigas ou só com gente que não tem o mínimo contato? Ela queria desabafar, e eu a ouvi como um sacerdote. Disse que tivesse cuidado no relacionamento, pois com seis dias apenas de namoro, muitos fatos estranhos, segundo ela, já estavam acontecendo.

Não sei se ela é somente uma mulher carente, ou alguém que adora conversar, ou representava um papel, com interesse de me pedir alguma ajuda financeira, no final daquela conversa. Não sei nada sobre ela e também não quero julgar. Nesse mundo de hoje, a gente sempre desconfia de tudo e de todos... e é pra desconfiar mesmo!

(Glaucia R Lira)