TECEDURA DA VIDA
Prof. Antônio de Oliveira
Há muito tempo que eu uso essa expressão. Desde antes da democratização da internet. Hoje a gente acha tudo, ou quase tudo, via computador.Ou celular. Às vezes a gente pensa que está sendo original e, de repente, dá de cara com coisa igual. Foi o que me sucedeu na última “Crônica 600”. E não é que, depois de disponibilizar o texto, vejo esse mesmo título como já tendo sido usado! Título desta crônica semanal, admito já na entrada, é repisado. Presta-se, porém, a uma gama de reflexões.
Tecer é entrelaçar fios, palha, lã, algodão. Daí surgindo um tapete, um cesto, uma cadeira de vime, suéter em malha, uma treliça... Como recurso, as mãos, os pés, agulha, tear... Nesse estado, a obra é considerada artesanal. A tecnologia transforma o manual em serial. Criei uma série de poesias dando-lhe o nome “Entr&oLaço”. Esse & eu o emprego aqui como entrelaçamento de “et”, um ‘e´e um ‘t” cortado, sinal gráfico latino, entrelaçado,correspondente ao nosso “e”.
Esse assunto me veio à mente, a ler como estou “As brumas de Avalon”, livro 2, A Grande Rainha. No capítulo 7 descreve-se um bate-papo entre mulheres que devem cardar a lã. Fiandeiras, tecem também a rotina, o entrelaçamento da vida. Admitida a analogia, do material para o vivencial, o que será mais complexo, fiar ou viver? Ou se conjugam?
Penélope, na mitologia grega, é esposa de Ulisses. Aguarda a volta do marido, que teve que partir para a guerra, a famosa Guerra de Troia. Nesse meio tempo, pretendente à sua mão é que não faltou. E ela enrolava cada um dizendo que, quando concluísse a peça, daria a resposta. Foi capaz de fazer os pretendentes esperarem até a volta de Ulisses, usando o estratagema de desfazer de noite o que fazia de dia. A teia de Penélope passou a símbolo de fidelidade conjugal. Sim, mediante a tecedura da vida.