Morte Digna
- Nos dias de hoje, as pessoas pensam cada uma em si, e apenas em si, cada uma em si mesma, e em mais ninguém. São individualistas, egoístas.
- É verdade. Concordo.
- Ocupa-se cada pessoa consigo mesma, cada pessoa a olhar apenas para seu umbigo, sem olhos para outras pessoas, e não se interessa pelo bem comum, o bem coletivo, o bem da sociedade, o bem de todos. Toda pessoa individualista é egoísta. Desinteressada da sociedade, da coletividade, vive apenas para si.
- Concordo. Concordo, em tipo e grau, com o que você disse. Você está coberto de razão.
- São as pessoas individualistas; e sendo individualistas, são egoístas. As pessoas individualistas, egoístas, não têm espírito coletivo, não participam da justiça social; não compartilham seus bens, suas riquezas; não se ocupam com o que, acreditando que não lhes são importantes, é valioso para a coletividade.
- É verdade. Concordo. Não tenho ressalvas a fazer.
- Que sejam reeducadas as pessoas. Que tenham os governos consciência da importância da educação de todo o povo para o bem-comum, coletivo, e o abandono do atual estado de coisas individualista. Se cada pessoa ocupa-se unicamente com o que lhe faz bem, a sociedade perece. Ou se educa para a coletividade, toda pessoa a entender que tem de viver para o bem coletivo, e não para o individual, ou a sociedade morre. Se faz urgente uma educação em favor da coletividade, e não, favorecendo o indivíduo, ir em detrimento dela.
- Concordo. Você está coberto de razão.
- Se toda pessoa pensar apenas em si mesma, e pôr seus interesses pessoais acima dos interesses coletivos, a sociedade implode; torna-se impossível o convívio social harmonioso, fértil, havendo indivíduos descompromissados com o bem-comum
- Concordo. Concordo.
- As pessoas individualistas não têm compromisso com a sociedade; acreditam que os interesses individuais são mais valiosos do que os coletivos. Elas têm de aprender, e aprender de um jeito qualquer, que elas não existem se a sociedade não existe. É a sociedade que as sustenta, que as mantêm vivas.
- De fato. É verdade. Concordo.
- Vejamos a economia de um país. Um país de economia fraca está fadado à extinção. É imprescindível que uma sociedade concentre seus recursos econômicos em prioridades, que os governos têm de definir, governos, claro, conscientes do valor da coletividade, e não governos que bebem na mesma fonte cultural individualista que está a destruir a sociedade moderna. Sendo irresponsável um governo, governo, claro, que atende aos interesses egoístas dos indivíduos e ignora os da coletividade, cabe aos que podem substituí-lo por governo compromissado com o bem coletivo, que saiba definir as prioridades, assim empregando, adequadamente, os recursos públicos em políticas apropriadas para o eficiente e correto uso deles, sem desperdício, sem gastos desnecessários. E uma das principais prioridades, senão a principal, e talvez a única, é a da conservação da saúde, da saúde e do bem-estar das pessoas que produzem riquezas, das pessoas que trabalham, das pessoas que têm valor econômico, das pessoas ativas, das pessoas produtivas, e não das pessoas improdutivas, das pessoas que não têm valor econômico, das pessoas que consomem recursos públicos sem que nenhum produza. Empobrece a sociedade, caso ela se veja em dificuldades, se nela há muitas pessoas doentes, pessoas enfermas, pessoas incapazes, que lhe consomem os recursos econômicos, e os recursos econômicos são limitados, escassos, e se faltam às pessoas produtivas, economicamente úteis, elas ficam impossibilitadas de produzir. As pessoas de valor econômico, ativas, produtivas, são imprescindíveis ao bem coletivo, à vida em sociedade. Portanto, os recursos econômicos têm de ser canalizados para investimentos em pessoas saudáveis, produtivas.
- Concordo. Não há riqueza social se não há quem a produza.
- E a produzem as pessoas socialmente comprometidas com o bem coletivo, e não as pessoas que ocupam as vinte e quatro horas do dia com tarefas que lhes satisfazem os desejos individualistas, egoístas, e com os seus sentimentos, que atendem às suas veleidades, que são individuais, socialmente corrosivas, portanto.
- Exatamente. Concordo. Nenhuma objeção eu tenho a fazer.
- As pessoas economicamente incapazes, irrelevantes, que não participam com tarefas que estejam em favor do bem coletivo, e que consomem os recursos econômicos, que são escassos, repito, e não ajudam a aumentar, ou simplesmente conservar, a riqueza social, não são imprescindíveis.
- É verdade. É verdade. Você está com a razão.
- Durante estes dias que, somados, dão quase dois anos, em que, para impedir a disseminação de um vírus, nos sacrificamos pelo bem-comum os homens economicamente produtivos e coletivamente comprometidos, descobrimos que a sociedade não se depararia com todos os contratempos, que lhe dão prejuízos imensuráveis, se todas as pessoas, instruídas a concentrarem todos os seus esforços e todos os seus recursos no bem coletivo, agissem com responsabilidade social, coletiva, e não com o objetivo de satisfazerem, exclusivamente, os seus desejos individualistas, egoístas. E se não houvesse milhões de pessoas economicamente improdutivas, inúteis, que nada fazem além de consumir recursos públicos, que, escassos, faltam aos que, socialmente responsáveis, produzem riqueza, a coletividade usufruiria de um padrão de vida infinitamente melhor do que o que possui. Unidas, as pessoas economicamente inúteis e as individualistas prejudicam, imensamente, a sociedade, a coletividade. Desperdiçou-se, nestes vinte e quatro meses, muito dinheiro com coisas inúteis e na manutenção de pessoas que nada produzem, irresponsáveis, egoístas.
- Concordo. Os recursos públicos tinham de ser melhor aplicados.
- Em tempo de crise provocada por um surto epidêmico viral o individualismo é fatal para a existência da sociedade.
- Concordo. Concordo mil vezes.
- As pessoas improdutivas, não é errado, e tampouco injusto, dizer, parasitam o corpo, o corpo social, coletivo, que já está doente, e lhe suga, e lhe suga até à exaustão, as forças, poucas, que lhe restam, causando-lhe a morte.
- É verdade. É verdade.
- As pessoas individualistas são parasitas.
- Concordo.
- As pessoas improdutivas são prejudiciais à sociedade.
- Verdade.
- O bem coletivo é importante; o individual, não.
- Concordo.
- Para o trabalho, ingente, e dispendioso, de combate à disseminação do vírus, a sociedade teria, para evitar o colapso dos sistemas de saúde público e privado, de concentrar todos os seus meios econômicos no tratamento de pessoas infectadas pelo vírus. Não foi o que se viu, infelizmente. Para nosso horror de homens comprometidos com o bem coletivo, cada pessoa, pensando em si, e apenas em si mesma, desperdiçou recursos econômicos que fizeram falta à política de combate ao vírus, que, espalhando-se rapidamente de pessoa para pessoa, infectou milhões de pessoas, afetando, dolorosamente, o sistema de saúde, colapsando-o.
- É verdade. É verdade.
- Outras medidas precisam ser tomadas para se evitar o recrudescimento da crise que se instalou no sistema de saúde.
- Quais?
- Antes de dizer quais medidas têm os governos de tomar, tenho a dizer que para o bem maior, o bem coletivo, temos de abandonar as nossas veleidades, as nossas idiossincrasias, sacrificar pequenos sonhos, pelo bem-comum, em benefício da sociedade, que progredirá se toda pessoa deixar de lado seus desejos egoístas e adotar uma postura de responsabilidade social, coletiva, e comprometer-se com o bem da coletividade, da maior coletividade que há: a humanidade.
- É verdade. É verdade.
- Se cada pessoa pensar em si mesma, exclusivamente em si mesma, indiferente e insensível à humanidade, esta perecerá.
- Concordo.
- Você me pediu que eu dissesse quais são as medidas que são essenciais para se evitar o colapso do sistema de saúde. São várias as medidas. Não citarei todas, de tão numerosas elas são. Concentrar-me-ei em uma delas, imprescindível ao bem coletivo. A da qual irei falar é a mais importante das medidas políticas, a que poderá, associada com outras, afastar da foice da morte a civilização humana. Trata-se da política, humanitária, inspirada nos maiores tratados humanistas modernos, que oferece às pessoas idosas incapazes de exercer qualquer atividade econômica, pessoas, portanto, que não podem exercer trabalho produtivo, e aos enfermos, principalmente os afetados por doença neurológica que os faz ineptos para o labor diário, seja braçal, seja intelectual, ou artístico, ou esportivo, os meios apropriados para uma viagem, melhor, passagem, e passagem indolor, do seu estado material para o seu estado imaterial.
- Não entendi. O que você propõe?
- Não quero que você me compreenda mal. Estou a cuidar do vocabulário que usarei para expor o meu pensamento, que é o de intelectuais e médicos e cientistas conceituados, renomados, donos de títulos chancelados por responsáveis organizações internacionais e por instituições de pesquisas e de ensino que estão entre as melhores do mundo; não quero que minhas palavras sejam mal interpretadas. O tema exige cuidado com as palavras, para se evitar mal entendidos. É o assunto muito sensível. Nos países ricos, entre os círculos mais altos das academias e da intelectualidade e da política, está o debate avançado; é o tema, aqui, país de terceiro mundo, onde ainda prevalece a cultura medieval, é tratado com incompreensão pelos fundamentalistas religiosos, que, intolerantes, de espírito antiquado, não apreendem a sua importância. Há muito a se fazer para esclarecer o povo, que ainda vive na idade das trevas, acerca do assunto. Digo que a política que tem o poder de, se não eliminar, reduzir consideravelmente os males que nos acossam a nós humanos, oferece às pessoas que insistem em acreditar na vida eterna, espiritual, na vida após a morte, uma passagem, salutar, de regresso de sua alma ao seu estado prímevo, o de antes de vir a habitar um corpo, um corpo físico, material, e às que jamais alimentaram tais fantasias a supressão de sua consciência, isto é, da consciência de seu estado físico, corpóreo. Em outras palavras, a política, que é imprescindível ao bem coletivo, à melhoria das condições de vida em sociedade, propõe suprimir das pessoas suas atividades corporais.
- Você quer dizer que para se evitar o colapso do sistema de saúde deve-se matar os velhos, os enfermos, os doentes mentais!?
- Você usa expressões muito fortes para designar um ato humanitário benéfico à humanidade. Não é a morte de tais pessoas que eu proponho, mas a morte digna, para o bem-comum. Sabemos que em momentos de crise como a que enfrentamos escasseiam os recursos econômicos, que têm de, obrigatoriamente, ser aplicados, e exclusivamente, para o bem coletivo, nas atividades produtivas, que só existem porque há pessoas produtivas, economicamente úteis, pessoas que não desperdiçam recursos, pois, saudáveis, não consomem recursos econômicos com tratamentos médicos, sem que, em contrapartida, participem da produção de riqueza; ao contrário delas, as pessoas de idade avançada, os enfermos, e também as crianças, não nos esqueçamos delas, consomem recursos, que são escassos, repito, e essenciais ao bem-estar coletivo, e nada entregam à sociedade.
- Entendi este ponto. Você está a repetir argumentos. Eu quero saber o que é a tal morte digna de que você falou.
- É o sacrifício de algumas, poucas, pessoas,para a salvação de bilhões de seres humanos.
- É tal sacrifício, a morte de pessoas, assassinato. Explique-se. Estou confuso.
- Você usa expressões muito, muito fortes, e incorretas, e impróprias, para se referir a uma política que é defendida por pessoas iluministas, que, cientes dos problemas que a humanidade enfrenta em tempos de calamidades globais, como a que enfrentamos nestes dois últimos anos, sabem qual é a solução para eles. E é a solução o uso eficiente dos recursos econômicos, que têm de ser canalizados para investimento em pessoas e atividades econômicas produtivas. Eu não falo de assassinato, tampouco de mortes. Eu falo de morte digna, e a morte digna nada mais é do que o tratamento humanitário, segundo os mais modernos preceitos médicos e científicos, de vanguarda, que se oferece às pessoas que, além de não serem economicamente produtivas, consomem recursos que, sendo indispensáveis ao bem-comum, têm de ser aplicados em pessoas e atividades economicamente úteis, atendendo-se, assim, portanto, ao bem-estar coletivo. Aos velhos, aos doentes mentais, aos enfermos, às crianças de pouca idade, pessoas que, além de não produzirem riqueza, repito, consomem parcela considerável da riqueza que as pessoas produtivas criam, oferece-se a morte digna, um tratamento médico e psicológico humanitário. Ouça-me com atenção, e sem se me antecipar ao que irei dizer; e não julgue o valor intrínseco da idéia que irei expor, dela considerando, única e exclusivamente, o seu nome, morte digna, entendendo que se refere "morte" à morte propriamente dita, provocada por agentes do Estado, e tampouco assassinato. "Morte" em "morte digna" não é um ato deliberado de matar pessoas inocentes, indefesas; "morte digna" é sinônimo de uma atividade humanitária a preparar, psicologicamente, as pessoas economicamente inúteis para a compreensão, e consequente aceitação, do sacrifício delas, isto é, do sacrifício de suas pessoas, que existem em desfavor da coletividade, em desfavor do bem-comum. Elas não irão sofrer, pois entenderão que é o papel delas a honrada ação, ato meritório, de se sacrificar pela coletividade. Além do preparo psicológico, tais pessoas receberão tratamento médico condigno com a sua condição humana; os procedimentos serão indolores. Vejamos um exemplo: Uma pessoa nasce com uma doença neurológica que a impede de executar as tarefas diárias mais simples; assim, ela, além de não contribuir sequer com um mísero centavo para a produção de riqueza econômica, obriga outras pessoas, seus familiares, seus parentes, e médicos e enfermeiros, e cientistas, a dela se ocuparem, durante muitos dias, os pais durante vinte e quatro horas por dia, enquanto ela estiver viva, horas durante as quais eles poderiam exercer alguma atividade econômica produtiva; além disso, tal pessoa consome recursos particulares e públicos, que são empregados no seu cuidado, no cuidado de uma pessoa economicamente inútil, recursos que, podendo ser usados para o bem de uma pessoa saudável, economicamente útil, beneficiariam a coletividade, fim único de toda sociedade, de todo grupo social eficiente, que entende a importância do bom e correto emprego dos recursos econômicos. Outro exemplo: Os velhos, principalmente os aposentados e doentes, consomem muitos recursos públicos, riqueza que as pessoas economicamente úteis, ativas, produziram, e recebem, todo mês, a aposentadoria. E o que produzem, se doentes? Nada. São economicamente prejudiciais à coletividade. Consomem recursos econômicos imprescindíveis ao perfeito funcionamento da sociedade, e, para piorar a situação social, exigem cuidados redobrados de seus filhos e netos, e de parentes, e de profissionais da saúde, pessoas, todas elas, que, se dispensadas de tais incumbências, ocupariam o tempo com atividades produtivas, e não o desperdiçariam dedicando-se a cuidarem deles, velhos doentes, que nenhum valor econômico possuem, e empatariam os meios econômicos de que dispõem em tarefas economicamente produtivas. Os velhos aposentados, e, mais do que eles, os aposentados e doentes, fazem a sociedade desperdiçar riqueza que poderia ser empregada em benefício do bem comum, do bem coletivo, do bem social. E é a prioridade, ou devia ser, dos agentes públicos o uso justo, útil, eficiente, da riqueza econômica.
- Você quer legalizar a matança de doentes e velhos!?
- Sejamos racionais. Entenda: Em momentos singulares, e o que vivemos atualmente é emblemático, para se obter o bem-comum, coletivo, da humanidade, pequenos sacrifícios são indispensáveis. É uma questão de custo-benefício. Convêm manter vivas pessoas economicamente inúteis para cuja existência os governos têm de direcionar recursos econômicos, que são escassos, repito, que podem ser usados na conservação da vida de pessoas economicamente úteis, pessoas, estas, que, sem os recursos que lhes permitem produzir riqueza, e ao deus-dará, acabam por adoecerem, assim elevando os gastos públicos? Estamos enfrentando um estado de coisas, que nos causa calafrios, de nos aterrorizar, de levar-nos a perder a esperança de podermos vir, um dia, a criar um mundo melhor, rico, próspero e justo, um outro mundo, perfeito, de justiça social, sem desigualdade renda, e concretizar um ideal democrático de justiça universal. A epidemia do coronavírus ensinou-nos a determinar as nossas prioridades, e nelas nos concentrarmos, e a entender que temos de aplicar os recursos econômicos, que são escassos, repito uma vez mais, no atendimento hospitalar às pessoas infectadas, mas não em todas elas, e sim, unicamente, nas economicamente valiosas, úteis. Infelizmente, os agentes públicos não ousaram, os covardes, os pusilânimes, a dar tal passo, passo essencial para se garantir a harmonia universal entre os humanos, o que se obtêm com justiça social e concentração dos recursos econômicos nas atividades que beneficiam a coletividade, e a coletividade, sabemos, é a única instituição que importa, imprescindível à existência da humanidade. Desperdiçou-se, infelizmente, durante estes dois anos, riqueza incalculável, e irrecuperável, na manutenção de organismos individuais, humanos, os enfermos, os velhos, todos economicamente inúteis, que nenhuma contribuição fazem à sociedade humana, à humanidade. Leitos de UTI os ocuparam durante meses velhos doentes, inúteis, inválidos; tais leitos os poderiam ocupar pessoas economicamente produtivas, úteis à coletividade.
-- Você quer dizer que os idosos doentes têm de ser assassinados?!
- Você empresta às minhas palavras uma força negativa que elas não possuem, e julga-me, assim entendo, certo de que eu sou um personagem iníquo, indigno de apreço, de valor. Entenda-me: O importante é a coletividade; e não os indivíduos. Uma sociedade é saudável se os indivíduos que a constituem são saudáveis. Ao suprimir à vida pessoas economicamente inválidas, inúteis, favorece-se a coletividade, enriquecendo-a. Todos os esforços devem ser concentrados no atendimento de pessoas que produzem riqueza, e não nas economicamente inválidas. E mais: não se trata de assassinar, friamente, as pessoas prescindíveis, em momentos de ameaça existencial à humanidade, à coletividade; trata-se, é a idéia central, que estou a esposar, defendida por intelectuais, e médicos, e cientistas, de salvar pessoas, as economicamente úteis à coletividade, ao mesmo tempo que se oferece às que serão sacrificadas tratamento humanitário em seu processo de supressão à vida corporal, indolor.
- E qual é a participação dos familiares nessa história? E os sentimentos deles? Velhos doentes e doentes mentais, enfim, as pessoas que, na política de saúde que você defende, são economicamente inúteis, todas elas, têm familiares, têm parentes, têm amigos.
- Os sentimentos dos familiares, dos parentes, dos amigos, devem ser desconsiderados. Os sentimentos são valores que fazem egoístas as pessoas; pessoas têm sentimentos, portanto, os sentimentos são fenômenos pessoais, de indivíduos, são valores individualistas, e não coletivistas; engendram o individualismo, e não o coletivismo; atendem a desejos individuais, e não aos interesses coletivos. Os familiares, os parentes e os amigos têm de entender que a morte de seus entes queridos, acompanhados de zelosa equipe médica, que se dedicará a oferecer-lhes a morte digna, isto é, sem sofrimentos, sem dor, humanitária, é um pequeno sacrifício em benefício do bem maior, do bem coletivo, do bem universal, do bem da humanidade, que será vitoriosa ao fim de tal aventura, uma aventura universal.
- É desumano. Você pede pela morte, pelo assassinato, de pessoas, de pessoas que, entenderá sabe-se lá quem, e com quais critérios, são economicamente inúteis. É desumano.
- Não é desumana a morte digna. Saiba que ela não é desumana. Ela é imprescindível para o bem da coletivdade. Não se esqueça: Você concordou com todas as premissas; você entendeu que é o individualismo prejudicial à coletividade; você entendeu que em tempos difíceis se faz indispensável o uso da riqueza econômica em favor da coletividade; você entendeu que para o bem da coletividade sacrifícios pessoais, individualistas, são imprescindíveis; você entendeu o que eu disse, e concordou com o que eu disse.
- Não. Você usou de uma artimanha para me engabelar. Você armou-me armadilhas retóricas para me induzir a concordar com uma idéia absurda, desumana. Reprovar nas pessoas o egoísmo é uma coisa; justificar um valor coletivista que exige a morte de pessoas doentes, idosas, é outra.
- Você persite no erro de considerar desumana uma política humanitária. A política de morte digna é digna de apreço pelas pessoas que não têm o espírito carcomido por preconceitos medievais, de fundamentalistas religiosas. Um dia, talvez, quem sabe, e eu acredito que será difícil, para não dizer impossível, você se liberte dos grilhões culturais nefastos, corrosivos, que impedem você de apreender o valor humanitário da política da morte digna. Quem sabe!? Tenha um bom dia.