QUANDO O AMOR SE TORNA NADA

A vida a dois, ressalto mesmo sendo óbvio ululante porque às vezes é necessário desenhar, realmente não é uma jornada de bons ventos o tempo todo, mormente depois dos primeiros meses de convivência. A meio caminho, ah, em tantos momentos!, aparecem os pequenos e grandes obstáculos, repentinamente surgem pedregulhos e rochas, a rota se torna íngreme e inúmeros espinhos insistem em brotar roxos de inveja.

A partir de então, se os dois não se derem as mãos com firmeza, abraçados a um só objetivo e agarrando-se ao desejo de nunca desistir, o rio da discórdia terá ampla facilidade de dissolver a união ante o ímpeto de sua furiosa correnteza. Se o amor entre ambos for apenas uma tênue linha prestes a se fragilizar a qualquer momento, o dique dos sentimentos se romperá causando o inevitável desastre. Mas se o amor um pelo outro for mais forte do que os ventos da intensa tempestade súbita, os dedos entrelaçados de suas mãos permanecerão juntos, colados e unidos.

Sempre nos perguntamos por que no começo tudo são lindas e perfumadas flores, são beijos ardentes trocados em todos os lugares, são mãos fugidias buscando reentrancias, são pegadas furtivas e inesperadas a todo momento e os sorrisos se multiplicam no entremeio dos prazeres a que se dão sem nenhum pejo. Não se largam "nem por cem e uma cocada", trocam olhares como se estivessem apenas namorando e não vivessem juntos, e tudo se mostra algo com sabor de maravilhas que jamais acabarão. Pelos menos é o que sonham, é o que mais querem.

Até que o tempo se transforme em desgaste conforme a realidade flui e escancare sua humanidade. A felicidade do princípio esvai porque pensamos que o meio e o fim serão sempre como no início, sem óbices, sem dores, sem dúvidas, sem desentendimento, sem ressentimentos, sem mágoas... Esquecem de amarrar bem os nós dos primeiros passos, de içar a âncora e seguir, de fortalecer as bases da coexistência, de ter em algum lugar do coração um cofre de reserva onde seja salvo um mar de amor para suprir a fome e a sede de carinho dos anos vindouros. Gastam e usufruem tudo de uma só vez ele, e quase sempre, portanto, ficam sem nada. E quando o amor se torna nada qualquer relacionamento desmorona, a via da confluência se bifurca e cada um dos dois dobra para um lado diferente. Não deveria ser assim, mas infelizmente muitas vezes é. Por consequência, os dois sofrem e choram.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 10/07/2022
Reeditado em 10/07/2022
Código do texto: T7556661
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