PENA DE MIM

O custo de uma vida é muito caro para tão pouco tempo. Costumamos dizer que quando cometemos nossos erros, que havemos de começar do zero. Isso nunca foi verdade, gosto de pensar em construir, desconstruir e reconstruir, é apenas um seguimento da vida temporal. É sempre tentando fazer o certo, lamentando os erros, eliminando as etapas vencidas em que não foram sucesso, fazendo valer o aprendizado, na crença de que seremos sempre eternos aprendizes. Pode ser que nos acompanhe sempre, nessa busca em conhecer, quem é o sábio, e assim nos darmos conta que a sabedoria está Deus? Dos atributos de Deus, herdamos todos nós, parte da sua imagem e semelhança. Logo, não pela arrogância de alegarmos que sejamos pequenos deuses. Isto não é verdade, mas pode ser compreendida como nossa vocação, o que determina que desejamos ser boas pessoas. Apenas penitentes em busca do aprendizado através do que o Criador deixou em nossa morada peregrina – um mundo de cores e de valores que transcendem ao tempo em toda a sua criação, o que inclui desde o pequenino inseto aos maiores animais da terra. Tantas coisas para serem lembradas e fazer de nós, seres extraordinários, cuja capacidade criativa não se limita apenas ao conhecimento dentro do espaço e do tempo, mas que se renova em cada dia, o que na verdade jamais será o fim. Contudo, o tempo não perdoa, o aprendizado demora em ser alcançado, e ainda determina, de forma cruel, para dizer que o relógio não para, os ponteiros correm muito rápido, pressionando que eu diga alguma coisa que ainda tenha nexo causal, ou seja, que ligue o efeito à causa, que diga que eu aprendi, momento em que me vejo no espelho e, tenho pena de mim. Quando penso que cada um de nós constrói sozinhos a nossa própria história de vida, como se construindo cada um o seu mundo particular, desejando que seja do meu jeito, esquecendo de dar o crédito por quantos que nos cercaram para que chegássemos até aqui. Posso entender que no meu projeto de vida jamais terei como encontrar, ou contar tudo que, contribuiu para minha existência, além do acordo que um homem e uma mulher tenha feito, trabalhado muito desde o início de tudo – meu pai e minha mãe, num momento sublime de amor, corroborando com o Criador para que viesse ao mundo um ser maravilhoso que sou eu – ser pensante, livre para voar, criar, construir, ter prazer em tudo que mente e coração, alma e espírito possa produzir. Nesse universo em que a vida se constitui, se encontram as formigas, os cachorros, os marimbondos, não dá para enumerá-los todos, no entanto, consciente de que tudo faz parte do que somos, do que temos, do que pensamos. Que faz o escritor com suas narrativas, senão, para permitir que outros possam viajar a mesma viagem, encontrar valores que o levaram a construir uma vida de verdade, voltada para os valores com que lhes fora dado por herança pelo Criador. Em cada página a pintura de quadros que emocionam, que fazem chorar, que fazem mudar a vida de tantos que ficam à deriva, e, pior, quando não o verdadeiro sentido para a vida, acabam sucumbindo por não ter aprendido a lição ofertada na sua caminhada. Por isso eu quero correr a última corrida, ser o mais rápido possível, o espaço fica cada vez mais curto, já posso vislumbrar a faixa de chegada, preciso contar e contar depressa. De que valeu, ou de que está valendo toda essa corrida, se tudo o que foi conquistado, construído for deixado para trás. O custo de uma vida é muito caro, e, se sou grato por minha vida, não posso deixar morrer comigo, levar para a sepultura todo o meu aprendizado. Deixar ser reduzido a uma simples lápide com a inscrição: “Jaz aqui um grande pensador”. Tenho pena de mim, quando vejo que o tempo urge, quando estou certo de que a minha vida foi planejada para ser uma benção na vida de outras pessoas; que não sou obra do acaso, mas, sim, saído da prancheta dos anjos no comando do Criador. Quero contar tudo, o quanto me for possível, somente para dizer que a vida valeu à pena. Quero correr, sei que está tão bom, mas preciso me apressar, tenho pena de mim, o relógio ainda não parou. Corro porque sei que ele vai parar. Que pena!

07-07-2022