Meu neguinho
Qdo vi o neguinho, me apaixonei. Foi feito sob medida pra mim. O Luthier que o desenhou já devia me conhecer : mignon , slim, delicado. Não me lembro bem, mas à época, me avisaram que tinha um restinho de fundo de garantia na Caixa. Pouca coisa. O suficiente pra realizar meu sonho. Tocava e cantava na igreja toda quinta-feira, e, sequer tinha um instrumento elétrico. Deus estava vendo aquilo. Estava cuidando das minhas necessidades. Lógico! Foi então que, do nada, apareceu aquele dinheirinho. Corri na loja com meu filho e comprei-o. Já me via sentada no banco da igreja tocando "Ninguém te ama como Eu" . Nem dormia direito. A ansiedade me acordava , danada. Enfim chegou quinta feira. Ao adentrar a igreja, tinha outra coordenadora ali, e, simplesmente me ignorou. Fiquei envergonhada, engasgada, as lágrimas embassaram meus olhos. Nem sei como saí dali. Enfiei a viola no saco e fui. Foi um punhal que atravessou meu peito. Sangrou. Deus viu. Enxugou-me as lágrimas. Passados mais de quinze anos, o violão da minha vizinha Flavia Brites , que toca e canta lindamente na Igreja, quebrou e, claro, prontamente ofereci o neguinho pra ela. Finalmente ele ocupou o seu lugar. Sabe aquele velho ditado: Deus tarda mas não falta ?