Instituto Pestalozzi de Aquidauana (1915)
A segunda década do século XX foi um momento especial na história da então vila de Aquidauana, atual décima cidade mais populosa de Mato Grosso do Sul. Em dezembro de 1912, foi inaugurado o tráfego da Estrada de Ferro entre a vila e Porto Esperança, no rio Paraguai. A partir de então, começaram a chegar muitos novos moradores em busca de trabalho e novas oportunidades de negócios. Haviam-se passado apenas duas décadas da fundação do povoado e as famílias mais abonadas já pressentiam a necessidade de um bom colégio para a instrução dos seus filhos.
Em meados de 1915, o professor Arlindo Alberto de Lima, natural de Batatais (SP), formado na Faculdade de Direito de Recife, fundou o Instituto Pestalozzi, que marcou época na história de Aquidauana. Esse colégio oferecia o curso primário com excelente corpo docente, e mais algumas disciplinas de cultura pedagógica, visando uma formação livre para o exercício do magistério. A respeito desse momento áureo de Aquidauana e do Instituto Pestalozzi, temos as memórias do professor Luiz Alexandre de Oliveira, que testemunhou em sua juventude a inauguração do estabelecimento.
Em entrevista concedida à professora Maria da Glória Sá Rosa, inserida no livro “Memória da Cultura e da Educação em Mato Grosso do Sul: histórias de vida”, publicado em 1990, Luiz Alexandre destacou a cultura e a vocação para o magistério do professor Arlindo de Lima. Antes de vir para Aquidauana, ele exerceu mandato de deputado em São Paulo, quando atuou na comissão de instrução pública, conforme está publicado nos Anais da Câmara dos Deputados daquele estado, de 1913.
O primeiro aniversário de criação do Instituto foi comemorado com uma animada festa, realizada em junho de 1916, cuja programação incluía palestras, discursos, desfiles, apresentações artísticas, banda de música e declamações feitas pelos alunos. O evento foi noticiado através de um detalhado artigo publicado na imprensa paulistana, destacando a sua primorosa organização que contou com o entusiasmo das professoras Dora Abbott e Mary Abbott, que ministravam aulas na seção feminina do curso primário.
Na abertura da festa, após algumas rápidas palavras, o diretor Arlindo de Lima passou a palavra para o professor e advogado Dolor Ferreira de Andrade que agradeceu a participação de todos em nome do corpo docente. Nos anos seguintes, Dolor de Andrade se tornaria político conhecido no sul de Mato Grosso. Em seguida, o professor Balbino Couto, que também pertencia ao corpo docente da escola proferiu uma palestra sobre a importância da instrução escolar, sendo muito aplaudido por suas colocações.
A segunda parte da programação foi constituída de diversos alunos, iniciando com a apresentação de um afinado coral. Houve a declamação de poemas em francês e dezenas de outros números culturais. Após as representações, o professor Arlindo de Lima saudou e agradeceu todas as famílias e autoridades presentes pelo prestígio conferido ao Instituto, aos seus alunos e ao corpo docente. São memórias preservadas nas páginas do jornal Correio Paulistano, edição de 6 de Julho de 1916.
Mas, infelizmente, para aquela importante vila, no início do ano seguinte o diretor resolveu transferir o Instituto Pestalozzi para Campo Grande, onde passou a receber uma subvenção financeira aprovada pela câmara municipal. Naquele momento estava nascendo as raízes do ensino secundário na vila que hoje é a capital do Mato Grosso do Sul. O Instituto Pestalozzi, depois de receber outras denominações, no início dos anos 1930, foi adquirido pela Missão Salesiana do Mato Grosso e passou a ser o conhecido Colégio Dom Bosco, instituição que participou da trajetória estudantil de milhares de jovens campo-grandenses e de muitas outras localidades do estado.