ESCRITOR ILUSTRE... DESCONHECIDO

Era uma vez certo JAX que gostava de contar histórias para um círculo reduzido de parentes e amigos.

Na infância, seus contos envolviam aventureiros, caubóis, bruxas, duendes, bichos reais e imaginários. Se algum primo ou amiguinho mais novo perdeu o sono na ocasião, vá lá saber, é porque o contador de histórias exagerou na dose.

Aos quatorze anos, seguindo o exemplo de sua patota no colégio, JAX escreveu seu primeiro conto, do gênero policial. Buscou produzir uma sequência do livro O Arqueiro Verde, que muito apreciara, do emérito autor britânico Edgar Wallace. Além da evidente distância entre tais obras, em termos literários, ocorre que o jovem iniciante ainda cometeu o erro, no título, de trocar “arqueiro” por ‘fantasma”. Erros típicos de adolescente inexperiente, com o perdão da rima.

Ao chegar aos dezesseis, em 1968, o aspirante a escritor redigiu a primeira crônica, Sonhos de Rei (que rei sou eu ou será esse?). Como se trata do ano que não terminou, iniciou-se interminável produção de textos. Objeto de criteriosa revisão pelo autor ao atingir a fase adulta, a maioria desses escritos alcançou sua glória em precisos arremessos no cesto de papeis.

Seguiu-se longa fase de ostracismo, durante a qual JAX concedeu maior atenção a outras atividades, inclusive o trabalho, nas horas vagas.

Cabe aqui similar parênteses para registrar um pouco mais da (curta) biografia do cidadão. De ascendência portuguesa, indígena, judia e árabe, a salada genética daí resultante certamente propiciou ao escritor a profusão de ideias estapafúrdias, desencontradas e paradoxais que povoam seus escritos. Algumas tão absurdas que chegam a parecer geniais em sua capacidade de desafiar os limites do absurdo da existência humana, concebido pelo insigne escritor francês Albert Camus, outro dos ídolos de JAX, ao lado de Machado de Assis e... mais uns quinhentos nomes.

Carioca e Fluminense (Futebol Clube) desde o berço, eis outro registro significativo. Não obstante, por ser tijucano, convicto e fervoroso, o infante das letras cedeu à tentação de torcer pelo clube do bairro, o simpático América, com o qual nadou e morreu na praia em repetidas ocasiões. Atingida a maioridade e pensando no futuro das suas futuras crianças, redimiu-se do pecado da traição ao tricolor e voltou de mala e cuia às Laranjeiras, qual filho pródigo, a tempo de curtir um tricampeonato estadual e um título brasileiro (muito mais do que o clube de Campos Sales lhe proporcionara em duas décadas!).

Por falar na humildade de redimir-se, note-se que JAX não revela defeitos de caráter (certamente por timidez). Talvez se possa, contudo, criticá-lo por ser um tanto metido. Metido a escritor, metido a cartunista, metido a humorista, metido a entendido e craque em futebol e basquete - este último com a flagrante vantagem de praticá-lo do alto de seus 1,70m.

Conclua-se esta crônica com o fato de que, nos últimos dez anos, o escritor amador retomou seu passatempo de contar histórias e criou coragem para estendê-las a número maior de leitores (coitados!). Contando com a cumplicidade dos amigos Christian Piana e Michele Navarro, da editora Lamparina Luminosa, publicou três livros entre 2015 e 2019, um dos quais inteiramente de desenhos de humor (todos esgotados, por sorte!). A seguir, vieram outros livros individuais e quinze antologias, com diferentes editoras, ademais de textos publicados em sites, como este Recanto das Letras, e o Divulgaescritor. Também aparece em revistas, como a LiteraLivre.

Quem queira aventurar-se em ler o ilustre desconhecido, ainda terá oportunidade, pois o cara é decididamente insistente e continuará a fabricar histórias.

Saiam da frente que atrás vem esse irreverente!

JAX, junho 2022.