Limites

Faz uns dias que tenho pensado na existência humana e sempre me indago acerca do nível de conhecimento e realizações do qual chegamos.

Quando se retira da equação a ambição, arrogância, prepotência, egoísmo, maldade e ódio e ficam apenas “carne e ossos”, é nesse momento da pura vulnerabilidade de ser humano que me fascina.

Como fizemos tudo isso? O “penso, logo existo” de Descartes é sem dúvidas um manifesto da possibilidade.

Certamente, entender a própria capacidade argumentativa é um mistério. Perdi as contas das vezes em que disse algo interessante e depois busco conscientemente compreender como aquilo surgiu.

Mas esta crônica descontruída não é sobre isso e está tudo bem. Precisamos conversar sobre o fato de como ser uma pessoa é cansativo. Não devemos nos esquecer disso.

Acredito na assertiva da difícil vida dos animais irracionais, imagina ter de correr atrás do seu alimento e às vezes, não obstante, ser vencido pelo cansaço?

Afinal, um dia é da caça e o outro do caçador.

Entretanto, a espécie humana passa por altos e baixos também.

Recentemente passei por duas situações bem engraçadas: a primeira; um jovem estava fazendo aniversário e o desejei parabéns, comentei sobre o amadurecimento da idade, da vida em geral, e quando percebi fui chamado de velho. Logo eu. Me senti tão velho, sem falar na ofensa ainda cedo do dia.

A segunda; um exame, numa circunstância igualmente icônica, passei a manhã em jejum (sem necessidade) para uma consulta. O imperativo da questão: a fome. Em minha defesa imaginei ser de sangue. Sim, viver é passar por ocasiões como essas.

Somos perfeitos imperfeitos; criaturas em construção e reconstrução.

A rotina é uma via sem volta.

É passar o dia trabalhando e chegar em casa tão exausto sentindo suas forças indo embora e tombar na cama no primeiro instante, nem pensa. É acordar no dia seguinte para repetir o ontem e o depois. E a gente faz porque precisa. Há uma lista de responsabilidades e necessidades a se cumprir.

O ponto é que mesmo com todos os aparatos tecnológicos ainda nos sentimos vazios e frágeis. Somos frágeis!

A mera existência é por si questionada. Por vezes, é contracenada com o uso de drogas químicas e sintéticas visando a diversão ou mesmo a superação da dor e angústia, em alguns casos, motivadas pelo luto.

Em matemática, a definição de limite é utilizada no intuito de expor o comportamento de uma função nos momentos de aproximação de determinados valores. Fora dos cálculos, o limite é uma imposição; o reconhecimento de quando parar, as barreiras dentro do suportável. Viver não tem receita, permita-se descobrir vivendo. O tempo passa depressa.

Tudo que somos e temos está acontecendo agora, o presente é real. A banda Legião Urbana em uma de suas músicas expôs essa rapidez no trecho: “É preciso amar as pessoas/ Como se não houvesse amanhã/ Porque se você parar pra pensar/ Na verdade, não há (...)”. Permita-se evoluir e saiba que parar também é evolução. O caminho importa.

Essa crônica é dedicada a todas as pessoas pelo tortuoso caminho da vida, aproveite cada momento.

Um passo de cada vez.