DIARIAMENTE...
Vamos deixar bem claro. Jamais escrevi um diário. Ficar escondido por detrás de páginas e mais páginas escritas diariamente, quer se tenha ou não assunto, nunca me entusiasmou.
Aquela forma clássica de abrir a comunicação com o Diário sempre me incomodou: “Meu querido diário...” Parece coisa de consulta ao analista: “Doutor, meu querido doutor, aí vão as minhas recordações do dia-a-dia, veja o que pode fazer por mim...”
Outra característica do Diário: total segredo. O Diário tem de ficar fora do alcance de qualquer pessoa que não seja seu próprio dono. Trancado a sete chaves. Só descoberto quando da morte do autor, ou como material – quem sabe? – de um futuro romance criado pelo diarista, como se o conteúdo fosse de um ser fictício. Como dizia uma canção dos velhos tempos: “Segredo é pra quatro paredes!” Nunca para ser redigido em papel.
E quando o tempo do autor ficar totalmente preenchido e ele nem se lembrar do confidente? Passa a ser Semanário? Quinzenário? Até que ficaria engraçado: “Meu querido Quinzenário. Mil perdões! Como eu e minha caneta sentimos a sua falta!”.
Caberia, em tempos pós-modernos, escrever Diários no computador ou no celular? Já imaginaram um hacker entrando nos textos do diarista e divulgando seus segredos? Ou fazendo chantagem para não espalhar suas ideias atrevidas no campo sexual?
Prefiro guardar o que foi dito acima na minha cabeça. Quando eu me for desta, tudo irá comigo...