SOBRE TIOS E TIAS
Quando somos crianças, a família é tudo para nós. Nossos avós, nossos pais, nossos tios e tias, além de nossos irmãos, primos e primas.
Do lado de papai, não conhecíamos ninguém, pois, veio do interior da Bahia muito jovem e sozinho. Nunca mais voltou. Numa época, que nem telefone havia.
Do lado de mamãe, além dos avós, havia tio Antônio, tio Horacinho, tio Miraldo, tio Walter, tia Aracy e tia Eneida (Neide para nós).
A esposa de tio Antônio, não lembro dela e do nome. De tio Horacinho, tia Edwirges. Do tio Miraldo, Iolanda. Tio Walter não casou. Tia Aracy, casou com Tio Américo. Tia Neide, com tio Edilson.
Adorávamos ir à casa de todos eles. Tio Antônio, era o que morava mais longe, lá para os lados de Interlagos. Naquela época uma viagem, mas mamãe fazia questão de irmos rever seu irmão e nossos primos.
Tio Horacinho trabalhava em repartição pública. Sempre formal de terno, colete e gravada. Parecia ser o mais educado, para as crianças o mais chato.
Tio Américo era o que mais admirava. Fazia a massa do macarrão, cortava e cozinhava, além de preparar o molho. Numa época que cozinha era lugar de mulher. Alfaiate, assistíamos riscar o tecido com giz branco, cortar e alinhavar. Carpinteiro, era um mágico com as madeiras. Suas ferramentas, todas perfeitas, limpas e sempre no lugar. Pedreiro também construiu sua casa com ajuda de parentes. Resmungava em italiano, quando nervoso, era engraçado.
Tio Miraldo era o bailarino da família dançava como ninguém. Lembro de ficar admirado com ele se preparando para ir dançar. Acendia um palito de fósforo, apagava, molhava na língua e desenhava um bigodinho bem fino.
Tio Walter era o único a ir na manicure tirar cutículas e pintar as unhas com esmalte incolor. Gostava de vê-lo de terno.
Tia Aracy linda de pele quase negra. Uma bela voz, cantava muito. Sempre doce conosco. Gostávamos de suas comidas.
Tia Neide, a caçula. Muito bonita, calma. Ajudou a cuidar de nós. Morava com meu avô, quando íamos visitá-lo, a visitávamos também. Adoramos ela.
Tio Edilson pintor de paredes, o mais calmo por isso mesmo o mais legal. Ensinava e deixava-nos ajudá-lo a pintar e a fazer chapéu de pintor com jornais.
Tia Iolanda, esposa de tio Miraldo, lembro de ser uma mulher muito bonita. Apesar de morarem próximos, pouco fomos à sua casa. Logo, separou de nosso tio.
Tia Edwirges, filha do seo Mustafá. Loira e muito alegre, gostávamos muito dela. Esposa de tio Horacinho. Comíamos coalhada, Kibes, esfilhas, charutos de repolho, pratos não muito comuns na época.
Família com descendentes de africanos, portugueses, italianos, árabes, quando se reuniam as festas eram maravilhosas. Muitas comidas, musicas, danças, jogos, brincadeiras, conversas sem fim. Risadas e gargalhadas.
E hoje, muita Saudade.