A Pequeneza da Grandeza Humana
No centro do tatame estão duas crianças duelando em um combate de Jiu-Jitsu. A maioria das crianças apresentam aquele olhar perdido e com o medo dominando boa parte de suas ações, e naquele dia aqueles dois garotos não estão diferentes. Eu tenho uma visão próxima daquele evento, sou eu quem conduz aquela luta em segurança, eu sou o árbitro.
Minha preocupação com aqueles garotos é total com a integridade física deles, e tentar fazer com que aquela experiência seja a mais segura possível. Mas não nos delonguemos em discutir os arranjos técnicos daquilo que estou lhes contando, na verdade isso pouco importa na nossa história, e sim o quadro que o final desta luta pintou em minha alma.
A luta transcorreu como qualquer outra, um dos garotos demonstrou estar em melhor condicionamento técnico, dominando o outro garoto com eficiência, terminando a luta, obrigando-me a interrompe-la, pois o braço do garoto derrotado iria ser esticado de uma maneira que iria machucar o pobre garoto que levou a pior na luta. A tempo pude salvar o braço do garoto derrotado, a luta estava terminada, e o pequeno vencedor percebia que a luta havia acabado.
Neste momento, o qual quando você arbitra vê as mais diversas reações de alegria ou alívio com a vitória, um garoto de, sei lá, uns oito ou nove anos, pode me ensinar algo sobre a vida. Primeiro o garotinho ergueu suas mãos para o alto e soltou um fino grito de alegria, uma pequena explosão de emoção. Após o grito veio o momento que estou lhes falando, enrolando um pouco confesso, mas agora ele chegou, prometo que daqui pra frente será o quadro do qual lhes falei.
Aquele pequeno garoto colocou as mãos em suas bochechas e totalmente envolvido na emoção da vitória disse “Eu não acredito!”. Só de ver esta primeira cena já estava convencido que aquele não era um momento ordinário, sabia que ali estava algo para enxergar com atenção. Após a incredulidade com aquele sublime momento, ele soltou a melhor frase do dia, talvez não só deste dia, mas uma das melhores frases que escutei dentro de um tatame “Cara, eu vou chorar!”.
Aquele pequeno garoto, com pequenos olhos marejados de lágrimas foi conduzidos por mim ao centro do tatame, e pude erguer o braço dele, dando-lhe a certeza de que agora aquilo havia acontecido mesmo. Aqueles pequenos olhos marejados, aquela emoção emanada por aquela criança, me fizeram refletir a pequeneza da grandeza humana, que consegue transformar um simples momento em um esporte, em algo grandioso, glorioso, incrível, maravilhoso e todos os adjetivos possíveis para dar dimensão da grandeza do sentimento daquela criança naquele momento.
Momentos são grandes ou pequenos de acordo com o tamanho que damos a eles, e naquele dia pude enxergar o máximo desta grandeza humana, nos pequenos olhos marejados de lágrimas de uma criança vivendo seu momento de glória, es e entregando a ele de tal maneira, que me deixou com a impressão de talvez nunca ter me entregado a este momento como aquele garotinho.
Aquela cena pintou um quadro incrível em minha memória, o qual com toda a certeza vou levar e reproduzir para as pessoas muito mais vezes, tal como faço aqui para vocês. Ah se vocês pudessem ter visto aquela cena também... Com certeza ficaria pintado como um incrível quadro da natureza humana, da natureza da grandeza dos momentos que vivemos.
Aquele garoto pode me ensinar algo, sem nem se quer saber que assim estava fazendo, ele só foi ele mesmo se entregando ao momento...Espero, quem sabe um dia, sentir a mesma sensação daquele garotinho, e transformar pequenos momentos como aquele, em momentos sublimes da emoção humana.