Aspectos históricos da pecuária em Campo Grande
Uma das principais características da história da pecuária bovina no município de Campo Grande e, mais amplamente, no Mato Grosso do Sul é a sua longa duração. O sucesso do setor foi construído a partir de um equilíbrio inteligente e saudável entre inovações tecnológicas e práticas tradicionais aprimoradas com o tempo. Razão pela qual para se fazer uma leitura histórica do tema é preciso delimitar uma questão pontual, sem perder de vista o seu contexto. A partir desse pressuposto, alguns aspectos dessa importante atividade econômica podem ser destacados no relatório elaborado, em 1922, pelo intendente-geral (prefeito) Arlindo de Andrade Gomes.
Esse documento descreve o progresso geral da cidade e o florescimento de sua arrojada pecuária como principal fonte de riqueza. Naquele momento, havia um cenário promissor da atividade que já acumulava meio de século de tradição. Desde os meados da década de 1870, teve início um aumento expressivo do número de fazendas na região na qual seria criado o vasto município de Campo Grande.
Estava em curso o desafio de aprimorar as práticas cultivadas pelas primeiras gerações de fazendeiros. A modernização da atividade exigia a modificação do manejo, a redução da criação extensiva, a introdução de novas pastagens e o fornecimento regular do sal mineral para o equilíbrio nutricional e saúde do rebanho. O principal desafio daquele momento era a resistência que muitos criadores tinham em aceitar a introdução das raças zebuínas. Desde o início da década de 1910, estava ocorrendo a substituição gradual das antigas raças existentes na região, com a crescente aceitação do gado de origem indiana. Essas mudanças ocorreram a partir da influência pioneira de pecuaristas do Triângulo Mineiro, que desde o início do mesmo século começaram a importar os primeiros lotes de gado da referida raça.
Havia então “uma verdadeira febre” por parte dos novos pecuaristas em adquirir reprodutores zebuínos. Parte da reação contra o avanço dessa promissora raça no sul de Mato Grosso estava baseada em experiências questionáveis feitas na fazenda Capão Bonito, propriedade da Brazil Land and Cattle, empresa com sede nos Estados Unidos, cujas fazendas no município de Campo Grande totalizavam 158 mil hectares. Desde 1915, esse grupo financeiro estava introduzindo rebanhos das raças Hereford e Shorthorn, com a ideia de adaptá-los ao clima da região. Reprodutores dessas raças foram importados da Argentina, mas os primeiros resultados obtidos foram negativos.
Finalmente, há exatamente um século, o município de Campo Grande exportou 40 mil bois para Minas Gerais e São Paulo, já predominantemente cruzados com sangue zebuíno. Mesmo havendo a possibilidade de transportar o gado pela Estrada de Ferro, os boiadeiros continuavam conduzindo os rebanhos por terra. As comitivas percorriam 200 léguas, via Paranaíba ou Porto 15 de Novembro, levando dois meses para chegar ao destino. Por certo, muitas coisas mudaram nas últimas décadas na exitosa pecuária sul-mato-grossense que, no passado ou no presente, escreveu e continua escrevendo diferentes capítulos de sua história de longa duração.