Mulambos Humanos

MULAMBOS HUMANOS

CRÔNICA- 04/07/22

Arrastando-se pelas ruas, sujos, roupas

putrefatas, exalando mau cheiro, sem ter um lugar digno para fazer suas necessidades fisiológicas, catando restos de comida, para matar a fome, uma multidão de deserdados da sorte clama por uma misericórdia, que não vem.

Jogados pelas calçadas, interpelando os motoristas nos semáforos, cheirando cola e outros entorpecentes, furtando, dormindo ao relento ou embaixo de pontes, marquises e viadutos, menores de idade e maiores de sofrimento, clamam por uma justiça que não vem.

Morando em guetos, favelas e comunidades, vivendo de poucos biscates, vendendo bugigangas pelas ruas, rezando para conseguir dinheiro, com o que dar uma única refeição minguada para os seus, pais e mães de família, desesperam sem saber o dia de amanhã.

Milhões de desempregados vagando pelas ruas, enfrentando longas filas de emprego, devendo contas de luz e água, que podem ser cortadas a qualquer momento, fiando, quando deixam, para levar o minguado pão de cada dia para casa, seres humanos, descrentes da humanidade, choram em silêncio de desespero.

Um número incalculável da população sofrendo com dívidas, doenças, fome e falta de esperança, adormecem em soluços e lágrimas, recolhidos pelo travesseiro, querendo não mais acordar.

Enquanto isso, os mais afortunados seguem indiferentes, sem se dar conta do sofrimento alheio.

Enquanto isso, a sociedade civil, devidamente ordenada, gasta no fausto e interesses escusos, deixando de investir em políticas públicas de contenção à pobreza.

Então surgem ideologias estranhas e falsos messias que arrastam multidões esperançosas para paraísos inexistentes.

Estamos nos transformando numa sociedade de mulambos humanos.

Até quando os homens continuarão nessa rota suicida, sem se dar conta que vivemos num grande barco, que já está fazendo água, e que fatalmente fará com que todos naufraguemos?

Sinceramente, estou com medo.

Não sei se a luz no final do túnel trará claridade ou um tsunami final.

No entanto, se cada família afortunada, ainda que com um mínimo, tirasse do seu mínimo uma roupa usada, um calçado velho, um quilo de qualquer alimento, essa enorme multidão de desafortunados voltaria a ter esperanças.

Se quando escolhermos nossos representantes, levarmos em conta a competência e o compromisso com as políticas públicas de inclusão social, acenderemos, verdadeiramente, uma luz no fim do túnel.

Nós ainda podemos fazer a diferença.

Pedro Lodi
Enviado por Pedro Lodi em 04/07/2022
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