🔵 Dança da vassoura
Algumas lâmpadas coloridas bastavam. Era só equipá-las com pastilhas para o pisca-pisca. Isso era a grande tecnologia dos anos 80. Não podíamos esperar muito de um país que vivia os estertores do Regime Militar — quando a censura riscava faixas de discos, proibia palavrões e estabelecia as programações adequadas à nossa idade. Estávamos muito mal acostumados com a reserva de mercado, quando um LP lançado há alguns anos era novidade, as músicas eram gravadas em fitas cassete e artigos importados do Paraguai eram trazidos em esquema de guerra.
As criaturas chegavam com estranhas roupas fortemente coloridas, ridículas ombreiras, gel e brilhantina no cabelo, calça da OP e tênis xadrezes. O que parecia uma afronta ao Regime Militar e, por tabela, aos pais e a tudo o que fosse antigo, o que vestíamos era apenas a mais recente moda. Esquisito, mas era a moda.
Sem saber, contrabandeávamos o “breakdance” do Bronx (Nova York), que fazia escala na Estação São Bento do Metrô.
Nesse clima, foram promovidos os “bailinhos”, quando ainda se dançava abraçado, nas “músicas lentas”, e os mais desprezados dançavam agarrados a uma vassoura surrada, porém companheira. Às vezes, o “salão de baile” era montado na sala de visitas; aí éramos brindados com os olhos vigilantes de uma mãe ou avó alcovitando a perigosa reunião. Contudo, nas casas onde a cerimônia juvenil era empurrada para a garagem, a privacidade era garantida por uma lona no portão.
Do rádio gravador, as fitas expeliam: True (Spandau Ballet), Total Eclipse of the Heart (Bonnie Tyler), We’ve got tonight (Kenny Rogers / Sheena Easton), I Should Have Known Better (Jim Diamond), Lover Why - 1985 (Century), Ebony Eyes (Rick James), etc.
Dancei o fino do brega, impunemente, como o menorzinho “café com leite”, entretanto não escapei dos últimos ecos dos bailinhos, dançando Repetition (Information Society). Eram os anos 90, vestindo preto, abrindo o caminho a chutes e socos.
Todo esse cenário, talvez trouxesse forte influencia de décadas passadas. Essa modinha recente, que felizmente passou, das festas emulando os anos 80, recordou o que havia de pior, o que era ignorado e o que era chamado de brega na época. Existem épocas que são impossíveis de ser revividas, muito menos copiadas, no máximo, relembradas. Com as voltas de bandas e as festas anos 80, tentaram repetir o passado como farsa. E conseguiram.