ALZHEIMER
Até então eu não tinha atentado para os estragos da perda da memória. É tão contundente que a pessoa perde o vinculo com o seu passado, perde os prazeres, se abate, emagrece, a depressão se instala e perde a alegria de viver. Perder a memória é como não ter havido o ontem, é não situar-se no presente, é desconhecer as experiências adquiridas. Perder a memória é perder a si mesmo.
Ouve-se sempre a história de alguém que de repente começou a esquecer o ferro de passar roupa ligado, a panela na chama acesa do fogão, que não se lembra se tomou banho ou não, e em casos mais graves já não mais reconhece a vizinhança, os caminhos para voltar para casa, nem lembra o numero do telefone dos filhos. Mesmo para quem não tem idade avançada o diagnóstico de Alzheimer é mais ainda aterrorizante.
Não é fácil perceber que aos poucos o cérebro está deixando de funcionar e apagando devagar as lembranças da infância, o que aprendeu na escola, os momentos melhores dos romances candentes, a imagem do rosto dos amigos. A doença tira a pessoa do eixo e da esperança. Some-se a isso o desconforto e a tristeza que quando a vítima não tem noção de nada, tampouco de si mesma.
Um dos problemas mais evidentes é quando os doentes não têm o devido respeito dos outros. São tratados como caducos, e quando sobre eles contam casos e reportam as suas atitudes ou a falta delas, tudo é motivo de riso e chacota. É que por parte de quem não nutre respeito por ninguém o doente passa a ser visto como protagonista de piadas.
A natureza humana surpreende nos aspectos mais variados, mas no caso das patologias é de uma irracionalidade inexplicável. É quando, mesmo diante dos mais tristes exemplos e da repetição de histórias tão tristes à sua volta, as pessoas, que se julgam vacinadas por Deus, se consideram isentas de todos os percalços. Têm a certeza de que jamais ficarão doentes porque isso só acontece com os outros. Com elas, nunca.