Sonho

Nesta cidade de névoas e de chapéus, faço um desejo todas as vezes que vejo partir um trem.

Sempre o mesmo desejo, para facilitar que o escutem. Ou talvez para garantir agilidade em mais uma resposta negativa em forma de ausência.

Os sonhos são capazes de adoecer a alma do homem, e quando esses são maiores que a própria razão, controlam até o mais ínfimo de seus passos. Os sonhos são a sombra do homem.

Me atormento a cada segundo, desde que caí no feitiço da realidade, fantasiando com um lugar em que nunca estive, com uma casa da qual nunca pisei, saboreando uma paz que nem sei se existe. Dançando ao som de uma música que ninguém jamais compôs. Compartilho esse sentimento maldito de estar preso a uma vontade com todos aqueles que sonham mais do que vivem.

Decorei o horário dos trens e seus destinos. Já memorizei seus contornos sob a luz do sol, ou mesmo sua triste fisionomia durantes tardes chuvosas. As vezes, perambulando pelas avenidas acompanhado de minha própria miséria, arrastando a alma amarrada à uma garrafa qualquer, tropeço em toda gente de chapéu, com suas malas, despedindo-se e partindo no trem das 10h.

Pergunto se um dia serei eu a despedida.

Nem tenho chapéu.

Não tenho a quem me despedir.

E chegando em outro canto, almejaria novamente pela partida.

Carolina Lima
Enviado por Carolina Lima em 27/06/2022
Código do texto: T7547313
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