De repente a vida
Não mais que de repente, tão rápido que não percebi as marcas assinalarem meu rosto, não percebi a voz ficar fraca, e não vi quantas vezes troquei a gravata. Foi assim, que de repente mergulhava na piscina Gruta do Binão, junto aos pais de amigos e amigos que se perderam no tempo de minha existência, e ao sair das águas geladas passaram-se 45 anos, não posso deixar minha memória apagar, ou permitir que caia no esquecimento momentos que enobreceram e construíram o menino de 12 ou 13 anos de idade. Hoje, as expressões de felicidades que o sorriso insistiu em deixar sobre a velha face, é única testemunha da grandiosidade, da tamanha construção dada pelos amigos que passaram, não diferente, também os amigos que nadavam e saltavam do barranco mais engripe do ribeirão São Domingues, da guerra de mamonas, da subida gigantesca do Nico Eliodoro, das cercas de arame farpado. Eram amigos de escola..., não sei dizer, acho que eram Exatamente amigos, pois estavam na escola, no bairro, na igreja, na praça, nas ruas, então eram assim, amigos, sem bullying, sem depressões, mas com muitas encrencas que fortaleciam dia a dia cada amizade. Na lembrança, o arco e flecha feitos de leiteral, a correria para safar-se de uma flechada nem sempre foi bem-sucedida, apesar do tempo, ainda há cicatrizes que de quando em quando traz a doçura das travessuras e perigos que só um anjo da guarda para proteger. Na escola uma ordem, um medo, um respeito; nossa alegria contagiante de estarmos todos ali reunidos, não cabia no coração, eram meus amigos, foram preciso cada um e todos, como irmão, discordávamos, torcíamos para times diferentes, tínhamos habilidades tão sutis, que até aprendia a fazer o que achava difícil, apenas para estar ali e apreciar o momento de sermos amigos. Não imaginava que seria tudo tão rápido, tão de repente, tão abreviado. Reporto os momentos que trazem a lembrança como se estivesse lá, na vila santa Aureliana, jogando bourquinha na rua de terra vermelha, ou que estivesse correndo os jogos olímpicos em volta do quarteirão como se numa pista de atletismo, que fosse futebol na quadra da escola, claro que não há como não lembrar da final do campeonato extraclasse perdido no pênalti que eu bati, 1987 Leônidas do Amaral Vieira, no vôlei de areia que me trouxeram tantos amigos, no trabalho em grupo na casa de amigos, que me fazia sentir importante, até cafezinho era servido, quando não um lanche que nem sei o que tinha dentro, mas era bom. Assim, chegaram os 50, 51, 52, 53.... Podera voltar como um narrador onisciente e refazer os caminhos, e olhar nos olhos de todos nós, pequeninos que éramos, e relembrar a inocência, a ingenuidade da risada, da conversa fiada, da brincadeira de rua, do beijo na menina, da paquera da esquina. Ah Casimiro de Abreu, nem o li por esses dias, mas sinto seu poema como o sangue em minhas veias; não são emoções apenas, são recordações que hoje me dei conta em retratá-las. Festas..., eram duas extremamente importantes, na casa do vizinho, e de um vero que me dava o prazer de estar lá todo o primeiro dia do ano, acho que fui até estorvo, rsrsr, mas estava lá, não pelo que tinham à mesa, mas porque tinha no sorriso daquela família toda a confiança de ser amigo. Quantas luas novas se foram, quantos águas circularam, quantos desses se foram, quantos restaram... O texto não é pra entristecer a alma, mas para ser eterizado no coração daqueles que um dia confiaram e se fizeram confiados: Cucuta (marcos Atanázio) – Gilson Neves (in memória) –S Lamino – Jairo Garcia - João Luiz (gutão) – João luiz de Carvalho – Nescau (somente apelido) – Luiz (Luiquique) – Gilsinho – Fabio – Gerson – Faria – Kian – Renato (Picinim) – Evandro – Abel – Paulo (tatoo) – Carlinho - Modesto (in memória) – Gilberto (in memória) – Paulo Barboza – Adilson Barboza (homônimos até no futebol, se não fosse o Z no sobrenome) – Marquinhos - Pelado - Batata – Vermelho – My My – Helio - Cèlio, Edinho , Guilherme, Paulo - Assim segue a lista de infindáveis pessoas que ajudaram a desenhar a história e traçar caminhos, alguns influenciaram tanto que talvez não saibam o valor que tiveram, já outros estão certos que foram decisivos, de qualquer forma, houve uma construção, ainda que esta seja feita de escolhas e que permeia a individualidade, todos foram colaboradores das marcas que o sorriso facial estampa por hora. Esses, são apenas os nomes da infância, ainda há de considerar juventudes e mocidade e maioridade, que hei de abordar em outro momento. Às meninas separei um texto em verso, o qual logo publicarei, mas antecipo, com fidelidade da construção de criança, vale em tudo a amizade, e, recordo aqui com o coração apertado, se perguntar se é de poeta, não sei, se é de amigo, estou convicto, apesar de muitos estarem apenas na lembrança infantil, se os encontrasse, poderia não reconhecê-los, poderia estar na mesma fila do banco, no mesmo corredor do mercado e não saber que aqueles ou aquelas foram peças importantes no tabuleiro de minha existência, contudo deixo a cada um meu abraço, meu aperto de mão, meu sorriso, uma lágrima de contentamento por saber que valeu a construção.