Sinal de Trânsito

Há dias eu observava a rotina daquele garoto. Sempre com roupas rotas e o cabelo esculhambado, vez ou outra até descalço, esperava o sinal fechar para, de janela em janela, estender o braço fino com a pequena mão aberta à espera de alguns trocados. Essa cena repetia-se de cedo até o anoitecer. Do balcão da farmácia na qual trabalhava, eu pensava que, apesar de ter, às minhas costas, remédios para quase todos os males do corpo, ainda não sabia qual seria a cura para a nossa tão perturbada sociedade.