IDA

Como te falar que nosso amor já não nos pertence mais?

Como acordar pela manhã sem você?

Quando te vejo sorrindo pela sala e falando sobre seu mais novo livro de poesia favorito meu coração aquece novamente e quase, quase, esquece de toda a dor que tem por trás. Quando te vejo dançando e iluminando a nossa sala de estar eu quase deixo ir toda a sombra que nos cerca. Quando te vejo com nosso gato nas mãos, conversando e rindo para um minuto depois vir correndo em minha direção com um novo machucado que ele te fez, e reclamando que e ele só curaria com um beijo meu, quase me faz desistir da ideia de te deixar ir.

Mas, quando a noite chega, e com ela todo o caos que você armazena dentro de si chega, eu me lembro de o porquê querer te deixar ir. Quando você ler um texto meu e fala “por que você continua a escrever coisas que ninguém jamais irá ler? Que perda de tempo, você deveria ser mais produtiva”, e logo em seguida me compara com alguma amiga sua do trabalho, lembro o porquê preciso te tirar de mim. Quando estamos deitadas e você começa a falar sobre as suas novas colegas de trabalho e em como elas são lindas e em como você deseja que eu tivesse um terço da beleza delas, eu percebo que preciso te deixar ir.

Os dias ensolarados e cheios de alegrias não são fortes o bastante para as noites insones ao seu lado, esperando pelo seu sono vir, para, finalmente, poder chorar e te tirar um pouco de mim. Como faço para me descontruir sem você? As noites insones e cheias de preces já não são grandes o bastante para suportar tudo que meu coração está falando e todas as suas lágrimas. Por que você não percebe tudo isso?

Desde quando eu virei pó pra você?

Levantei cedo hoje. Meu âmago estava pedindo redenção de tudo. Estava gritando por uma saída. Fiz nosso costumeiro café, preparei nossos ovos mexidos enquanto esperava as torradas ficarem prontas. Te ver descer das escadas com os cabelos bagunçados já não me aquecia mais. Seu sorriso já não tocava aos olhos quando você me dava bom dia e sentava à minha frente.

Terminei minha xicara de café, peguei a carta que eu estava escrevendo a noite inteira e a deixe na mesa a sua frente.

“Às vezes nem mesmo o amor é o bastante”, era o que estava escrita em tinta preta manchada de todas as lágrimas que sangrei a noite inteira ao redigi-la.

Peguei as chaves no porta chaves perto da porta, olhei o gato em cima do sofá, olhei tudo que éramos e parti.

Nós não precisamos ficar em uma casa construída a partir da dor.