CRÔNICA DE DOMINGO.

TUDO VALE A PENA QUANDO A ALMA NÃO É PEQUENA.

A minha infância foi maravilhosa, eu tenho lembranças encantadoras de momentos que foram inesquecíveis em minha tenra infância. Até os doze anos eu morei em uma fazenda no interior de Minas Gerais,( fazenda Lindoya ), era o meu reino encantado com certeza. Quem já morou ou viveu em uma fazenda sabe bem o que estou dizendo. Natureza, diversidade na flora e fauna, rios de águas transparentes, pássaros de inúmeras espécies, o nascer e o pôr do sol. As imagens que guardo dentro de mim são as mais belas pinturas da natureza, quisera eu ter as habilidades de um Da Vinci para eternizá-las em telas, mas, muito timidamente vou tentando riscar com palavras as belezas que tenho nas molduras da memória.

Vamos começar falando da natureza, que, aos olhos daquela tímida criança, era como se fosse um pedaço do Éden. A fazenda Lindoya tinha mais de novecentos alqueires de terra, uma grande criação de vacas leiteiras e bois de corte. Havia também uma usina que fabricava aguardente, em tempos passados, na época de adolescência de meus pais fabricava-se açúcar, depois é que passou a fazer a famosa cachaça. Eram três os donos, dois irmãos e uma irmã, que a propósito, 'se odiavam', vivendo sempre em questões sobre como ficaria a divisão da fazenda após a morte da mãe, na época "ainda viva".

Cercada por montanhas, devidamente preservada, com inúmeras espécies de árvores de lei, mata atlântica preservada, uma fauna invejável. Caçar ou retirar madeira era extremamente proibido, resguardado pelos próprios moradores. Havia também um pequeno riacho, da qual chamávamos de 'ribeirão'. Foram muitas as pescarias nas águas tranquilas e límpidas do riacho. Vara de bambu, tardes de silêncio à beira da água ouvindo o harmonioso som das correntezas, o canto dos grilos e sapos. Tarrafas era proibido também, igualmente resguardado por todos os moradores. Foi um período que jamais esquecerei, não tínhamos modernidades, nem o luxo de ter tudo no mercado da esquina, porém, a natureza se encarrega de nos dar exatamente o necessário, nem mais nem menos. Do jeito que deveria ser, e éramos felizes em um equilíbrio perfeito de homem e natureza.

Houve um tempo que o próprio ( tempo ) pareceu parar, no entanto, o mundo moderno invadiu as nossas casas conforme as televisões ganharam espaços nas salas. O reino encantado começou a perder espaço para a ilusão de um novo mundo, as grandes cidades cativaram o imaginário daquele povo simples da roça. Aos poucos, famílias após famílias deixaram a fazenda para migrar para a cidade em busca de prazeres e ilusões perdidas.

Esse que vos escreve com saudosismo e dor no coração, foi um dos tais que veio para os grandes centros. Descobriu que o preço da suposta felicidade é por demais alto, embora possível. No entanto, ficou no âmago da alma a sensação de liberdade que foi perdida, de ser expulso do próprio Éden pelo pecado de desejar o fruto proibido na ilusória árvore dos grandes centros. Muitas coisas eu conquistei, outras tantas eu perdi.

Hoje eu trabalho incansavelmente para ter possibilidades de comprar novamente a liberdade que eu tinha. Enfim, sempre há um aprendizado em tudo, nas lutas, vitórias e derrotas em casa fase, ganhando ou perdendo nós sempre aprendemos. Eu sei que daqui um tempo poderei ter novamente um pedacinho do meu reino encantado, custará o preço de uma vida inteira eu sei, mas valerá a pena. Afinal, "tudo vale a pena quando a alma não é pequena".

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 26/06/2022
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