A DOR, O ONIBUS E O OUTRO
A dor e o outro, pois bem, eu achava que conhecia A DOR,
mas só vivi ela de fato de forma simples e pura na ultima quarta feira,
voltando para casa do centro, peguei o ônibus errado,
não desci no ponto próximo a minha casa e acabei indo parar no terminal de um bairro vizinho.
Para voltar ao terminal do meu bairro precisei pegar um ônibus desses cinzas vulgo ligeirinho,
o ônibus não estava muito cheio, no máximo umas 10 pessoas, a maior parte não me chamou muita atenção
eu estava do lado direito do ônibus, em um banco de frente para a porta.
Dois bancos pra frente havia um desses bancos individuais igual ao que eu estava sentado,
nele estavam sentados uma mulher e seu filho que devia ter em torno de 5 anos
mais uns dois bancos pra frente do lado esquerdo num desses bancos duplos
haviam uma outra mulher com o filho que também devia ter idade próxima ao outro menino entre 4 e 5 anos.
O menino sentado mais próximo a mim estava animado, inquieto, e embora estivesse sentado no colo da mãe ele fazia barulho, se mexia, ria alto, nada de exagerado, mas parecia se divertir com qualquer coisa que ele via. De repente,
num rompante de impaciência, a mãe desse menino lhe deu uma bronca em tom de voz alto rude e rígido e finalizou com um tapa cujo barulho ecoou pelo ônibus quase vazio, som alto o bastante para chamar a atenção do menino sentado no banco mais distante, que olhou para trás fitando a cena, observava enquanto o menino que acabara de apanhar chorava e a mãe ainda finalizava a bronca, sua expressão logo mudou, como se fosse ele quem tivera recebido o tapa
a expressão de susto deu lugar a de dor, como se ele não apenas observasse, mas como se tivesse sido também atingido, fisicamente e emocionalmente, como se ele pudesse sentir a dor e a tristeza do outro, seus olhos por alguns segundos perderam o brilho, era algo entre a tristeza, o desespero e indignação como se estivesse prestes a chorar, ele olhou para sua mãe, parecendo que ainda esperando dela algum conforto ou uma explicação sobre o que acabara de ver, pois era nítido que na cabeça dele, o sofrimento causado ao outro pela própria mãe não fazia sentido.
recebeu um breve afago no queixo que não o pareceu confortar o bastante.
deu mais uma olhada a cena que acontecia no banco de trás, agora com o outro menino já se acalmando apenas com suspiros, e ainda parecendo ter o pensamento de que a cena não fazia sentido na sua cabeça. ele olhou para fora do ônibus, encostou a cabeça no vidro e ali ficou!