VIA PÚTRIDA

VIA PÚTRIDA

Caminhantes que somos, peregrinos nesta vida, seguimos o que o destino traçou, ou melhor no que acreditamos e que nos move em cada passo que damos. Neste propósito, pelas vias de meditação, a exemplo dos “caminhantes dos passos de Anchieta” que celebram em todos os anos, unindo fiéis, dispostos a percorrem longos quilômetros, relembram a trilha percorrida pelo padre jesuíta São José de Anchieta, em seus últimos anos de vida. Pelo caminho, vão meditando, fazendo as suas orações, reunindo propósitos para um viver melhor. Em cada estação, uma parada para partilhar do pão, construindo amizades, partilhando experiências de bênçãos alcançadas O mesmo não acontece na via pútrida, ou seja na via política do Brasil, cuja caminhada, lá se vão a séculos, marcados pela pestilência do mal caráter, passando de geração a geração, num estado de fermentação cujos resultados vão sendo apresentados anos após anos. Os mesmos caminhantes da política vão remedando corrupção e desmando, enquanto em cada período eleitoral, se apresentam frente à televisão, exibindo seus largos sorrisos fedendo a engano e nojo. Voltam como se nada tivesse acontecido – das malas de dinheiro, dinheiro na cueca. Durante os últimos vinte anos, os dez mais notáveis foram: mensalão, máfia dos fiscais, sanguessuga, Sudam, operação navalha, anões do orçamento, TRT São de Paulo, Banco Marka, vampiros da saúde, Banestado. Assim, na atualidade, percorrendo por cada estação, ou seja, por cada Estado, os protagonistas da corrupção voltam à via pútrida, maquiados de boas intenções – Ceará, Maranhão, Alagoas, Espírito Santo, Amazonas... Não é necessário citá-los todos, quem sabe se alguns escapam dessa lista? Nesse período eleitoral, jatinhos cruzam o Brasil, levando os caciques em busca de uma nova tribo, inclusive renovando o foco, motivando mulheres a participarem da política (quem sabe as belas mulheres possam dar cara nova às mesmas siglas? Cujos apelos são: “venham mulheres...” de caras lavadas tentam substituir os caras pútridos da história). Não que a política não seja o meio de proporcionar a democracia, a liberdade de escolha, o problema é bem diferente dos propósitos essenciais do que seja política. O sistema político partidário é que é ruim, os partidos perenizam com as mesmas pessoas, elas se revezam em cada período eleitoral. O pobre do eleitor não tem como fazer suas escolhas, se são os mesmos, o que fazer? Escolher o menos pior? Nessa hora é que, ao pensar em mudança, pessoas de bem, dentre elas pastores e padres, por suas boas intenções se arriscam em construir bons projetos. Em princípio é assim mesmo, mas no andar da carruagem muitos acabam se corrompendo, e daí, o escalo é maior, como se todos os pastores e padres fossem da mesma estirpe. Talvez, o melhor conselho fosse que pastores e padres devessem ficar fora deste mundo político em face ao que representam para seus fiéis, não que os que são políticos sejam todos corruptos, não é isso. Sempre tem aqueles de bom caráter, contudo, pouco conseguem fazer, pois o sistema é muito forte, e a via é muito dolorosa, pútrida. Em tempos de estudante, a política tinha um gosto bom, submeter às escolhas de líderes de classe, dos grêmios, era pura alegria, não se criava inimizades, tinha gosto de festa. No entanto, as coisas mudaram, de repente as uniões de estudantes foram minadas pelos oportunistas dos regimes totalitários, tendo se tornado antro de interesse vil e corrupção. O que dizer dos Sindicatos e das disputas ferrenhas em que vale tudo, até se matam por ocupar uma cadeira como “representante de classe”, fosse assim, não haveria tanto interesse. Logo, estes que se projetam, começam por arrumar suas malas de dinheiro, e grande parte logo se tornam políticos onde a mala é maior. Infelizmente é assim! Como dizia um certo político: “política só se muda fazendo política”. Concordo com esse pensamento. Então, o que fazer? Fazer! E ao que parece, depois de séculos, os brasileiros estão entendendo que não há como fugir dessa realidade. É a via dolorosa de todos nós, temos que pagar o preço para nossa libertação das amarras da via pútrida. Somente o divino Mestre foi capaz de dar a sua vida em resgate de nossas almas, quando ainda o preço do pecado pesava sobre nós, Ele nos livra do pecado e da morte, e nos garante vida eterna. No entanto ao pesar a nossa cruz política, mesmo que custe o sacrifício de todos brasileiros, quem sabe nesse percurso aprendamos a nos livrar dessa via pútrida.

24-06-2022