LAMENTÁVEL, MAS PEDAGÓGICO

CERTAMENTE há muitas pessoas, inclusive no meio cristão, comemorando a prisão dos pastores amigos do Presidente - prisão esta, nunca demais ressaltar, preventiva -, assim como se tem comemorado a (prisão e soltura) de tantos outros brasileiros; é natural, faz parte de nossa constituição (humana e social).

NÃO é crime comemorar a prisão de alguém, embora, dependendo do caso, possa ser injusto e/ou imoral.

NOSSA situação social e política é deplorável e lastimável.

NATURALMENTE, em todos os lugares do mundo, pessoas, em todos os ambientes e de todos os níveis, cometem crimes. O nosso caso, no entanto, é quase ímpar, parece algo endêmico.

JULGO bastante relevante a atuação dos órgãos de controle e repressão da criminalidade do Estado Brasileiro nessa última década, a despeito das quase incontáveis e irrefutáveis falhas - estas também fazem parte do processo.

O QUE lamento é constatar que somos uma sociedade para a qual a criminalidade é algo banal. Em regra, o que "condenamos" não é o crime, mas coisas como: quem é o criminoso, quando e por que cometeu o delito. Isso é horroroso [e pavoroso]!

A PRISÃO dos pastores é lamentável por vários aspectos, menos pelo fato de que as investigações podem comprovar que o Estado está agindo legalmente e por motivações nobres [o que espero e desejo muito que seja].

É UM fato vergonhoso e constrangedor, porém, para quem não gosta de perder oportunidade de aprender, de cunho profundamente pedagógico.

ESSE fato, entre tantas outras lições, nos ensina que:

1. reconhecer, permanentemente, nossa condição (corrupta, corruptível e corruptora) humana em nada nos diminui ou condena, apenas nos causa certo necessário choque de realidade - o que mais se ouve no meio político brasileiro, no entanto, são auto-elogios do tipo: "eu sou honesto (a)", "eu odeio corrupção" - há até quem se considere "a alma mais honesta do mundo", e quem se declare "incorruptível".

2. num Estado que se quer passar por democrático e de direito, fazer uso de suas estruturas (que devem servir, indiscriminadamente, a todos) para beneficiar de modo especial determinados segmentos, além de ilegal e imoral, será algo sempre perigoso, independente das possíveis mais enlevadas intenções quem o faz.

3. como seres humanos (falíveis, portanto), jamais deveríamos subestimar nossa inclinação natural para o dolo, por mais que, em muitas situações, nada em volta pareça sugerir que ele seja a única alternativa acessível.

OU SEJA, se seguíssemos - especialmente os cristãos - mais criteriosamente a recomendação do Apóstolo dos Gentios ("viver com contentamento"), esse "carma" (corrupção) de nossa cultura e de nossa estrutura seria, certamente, em muito, arrefecido.