A Arma da Mamãe
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
No silêncio da noite um grilo chirriava pelo lado de fora da casa. Um friozinho vinha a passos lentos.
— A lua, linda que nem só se mostrava e se escondia, em nuvens, em costumeira trajetória...
O culto havia começado, pelo avançado horário. O cronômetro indicava o atraso da nossa obrigação religiosa.
Ao percorrer a sala com os olhos, procurei às horas. O pêndulo do relógio-de-parede, em mover-se, para um lado e outro, retratava minha pessoa, inquieta, pela demora da mamãe (íamos ao templo esse dia).
A mulher, é assim mesmo: ao precisar sair para algum lugar, demora a se arrumar. Ao achar estar pronta, que, deve ir... Algo ainda lhe falta.
— Ouvi de uma pessoa, que os fiéis que moram próximos ao templo são os que mais se atrasam aos trabalhos... faz sentido.
Fui sua companhia por anos, na caminhada da fé cristã... Agora, meio desanimado, com menos fervor... obediência.
De longe ouvia-se, "glória, Deus" e "aleluia", dos irmãos na congregação. Havia poder de Deus naquele lugar.
Como o cão anda solto...
Naquela noite à fera do Luiz Bode, no terreiro, resolveu atacar a mãe: a lhe morder de qualquer maneira.
— Não se via nele, sinais de desistência. Não se importava aos nossos gritos, de "sai para lá cachorro"... O bicho não desistia.
A mãe lembrou-se da sua arma poderosa: mostrou a Bíblia a ele.
O vira-lata deu um pulo para trás, como se tivesse recebido uma pancada.
— E sem graça saiu com o rabo entre as pernas, de volta à casa do seu dono. Não mais se meteu a besta com a serva de Deus.
*Nemilson Vieira de Moraes
Gestor Ambiental/Acadêmico Literário. (05:06:17).