FOBIA SOCIAL É UMA EXPRESSÃO GENÉRICA E ABRANGENTE.

Vários distúrbios específicos que cada um de nós sofre ou sofreu, e do qual só nós sabemos da natureza dos detalhes e das dificuldades, encontram nesta expressão sua qualificação social, mas este não é o diagnóstico.

É muito difícil diagnosticar, até mesmo para especialistas, estes distúrbios.

Quando eu tentava falar sobre eles para amigos, pessoas da família ou mesmo para terapeutas, os conselhos que recebia eram ridículos e davam até raiva.

Dificuldade de socialização e comunicação, sensação de inadequação e ridículo, Sensação que está sendo observado e vigiado o tempo todo.

Superdimensionamento de situações consideradas pela maioria de pessoas como banais corriqueiras. Medo de sair à rua e de se expor em público. Dificuldade de achar as palavras adequadas em situações do dia a dia ou em eventos mais esporádicos.

Quando eu tinha dezessete anos era convidado para festas e recusava sempre alegando algum compromisso que não existia. Um belo dia resolvi enfrentar estas dificuldades de frente e de forma radical. Entre numa festa de penetra e fiquei lá num canto encostado em uma mezinha baixa. Peguei uma cerveja (detesto cerveja) e puxei um papo (que ficou arrastado) com uma garota. Estava até orgulhoso de mim, quando um cara que eu não conhecia me disse algumas palavras, que não entendi por causa do som alto. Pedi a ele que repetisse:

─ “ Cara. Você sentou no bolo”

Afastei-me da mesinha e olhei. Lá estava a marca desgraçada. O afundamento da minha bunda no bolo da festa.

Minha cabeça começou a rodar e pareceu que eu sumi. Perdi a consciência. Só fui dar conta de mim mesmo correndo no meio da rua a vários quarteirões da festa.

No dia seguinte olhei nos noticiários e nenhum relatava o fato estarrecedor. Aquilo acabou virando piada entre as pessoas do meu círculo familiar e de amizade. Ganhei até prêmio de redação relatando este fato na escola (tempos depois).

A pressa em resolver estes distúrbios causa mais transtornos do que soluções. De outro lado nenhum fato destes, que nos coloca em situações constrangedoras, é tão destruidor e grave que nos impeça de dar sobre ele boas risadas depois.

Nós super dimensionamos e damos importância excessiva a eles por conta de uma condição de paranoia que nos aprisiona.

Eu já disse a mais de uma pessoa entre as que sofrem destes problemas. “Se você fizer algo muito estranho e extravagante hoje numa rua de qualquer cidade em poucos minutos ninguém estará se lembrando ou dando importância a sua ação e a você.

No máximo alguns vão pensar que algum “maluco beleza” esteve ali e aprontou mais uma.

O maior crítico de nós mesmos, somos nós ou alguma entidade autônoma (álter ego, subconsciente?), que habita dentro de nós, e que é com ele, e só com ele, quem temos que tratar se quisermos nos curar de verdade.

As pessoas me perguntam como eu me curei destes distúrbios. E digo que não existe uma formula pronta. É um processo que nunca fica claro para a gente nem com o passar do tempo. A formula que serviu para mim pode não servir para outros.

O que eu posso afirmar também que a atitude da pessoa que sofre com estes problemas é determinante. Nunca se render, ser obstinado, não se conformar, aceitar correr risco.

Tive que mudar algumas crenças sobre nós mesmos e sobre a vida em geral:

1 – Ninguém a não ser nós mesmos vamos nos salvar. Terapeutas são facilitadores (importantes) e não curadores.

2 – Remédios não curam. Só remediam.

3 – Apenas o próprio paciente, numa decisão pessoal, grave e intransferível, pode decretar sua cura.

4 – Por mais céticos que sejamos, temos que acreditar eu algo ou alguma coisa além e maior que nós mesmos, seja lá o nome que dermos para ela.

Ou seja, a formula que pode nos curar é como um produto personalizado, que nós como entidades já carregamos em nós, em algum nível de nosso ser.

Para sintetizar: Se nós temos o problema, já temos também a solução no pacote geral que a vida nos ofereceu.

O nosso maior desafio é tomarmos posse de nossa vida, nos nossos valores, dos nossos, talentos, das nossas fragilidades e seguir em frente. Este processo nunca termina.

João Drummond
Enviado por João Drummond em 22/06/2022
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