INVERNO

As frentes frias que trouxeram consigo as madrugadas congelantes dos últimos dias do outono foram o prenúncio de que o inverno não vai ser para principiantes.

Dos pássaros que voejavam no entorno, só restam os sedentários ratos alados que, como de costume, procuram algo comestível nos restos que os cães vadios espalharam pelas calçadas até que passe o caminhão da coleta.

Diferente do Nordeste do Brasil, aonde eu sempre vivi, o inverno daqui é seco, raramente chove e o mato rasteiro seca, a maioria das árvores e arbustos perdem as folhas que são levadas por rajadas do vento frio capaz de “renguear cusco” como dizem meus amigos gaúchos.

O sol foi passar férias no hemisfério Norte, mas em setembro estará de volta.

Até lá teremos névoa pela manhã e à tarde, dias de céu cinzento com muita nebulosidade e algumas raras nesgas azuladas. Também ocorrerão dias em que o vento forte, frio e seco descortinará um céu azul anil, com luminosidade de cegar camelo e a umidade relativa abaixo dos níveis de deserto, mas nada que creme hidratante, bastante líquido e antialérgico não resolvam.

Dentro de casa, devidamente agasalhado, continuarei a desfrutar do ócio que a velhice proporciona, escreverei “causos” despretensiosos, além de, sem muita determinação, tentar concluir as leituras de alguns dos livros chatos, repetitivos e mal escritos, que foram abandonados antes do final e observarei o passar dos dias enquanto “trovejo” umas cuias de chimarrão...

Ratos alados = pombos

Renguear cusco = aleijar cachorro

Trovejar um chimarrão = som produzido pela bomba quando finda a infusão.