đ” Guns ânâ Roses â Walking dead
Fora o excelente repertĂłrio, o que se vĂȘ hoje Ă© o que restou da banda de rock Guns nâ Roses. Em 1992, a banda californiana estava no auge. E foi nessa Ă©poca que fui a um show deles no Anhembi.
O show foi Ăłtimo e turbulento, como previsto. Previsto porque o temperamento do vocalista, Axl Rose, era sujeito a chuvas e trovoadas. De fato, o repertĂłrio foi executado para agradar aos fĂŁs, apesar das interrupçÔes e xingamentos. Provavelmente, os organizadores tiveram sua correria de praxe para atender pedidos extravagantes, exĂłticos, estapafĂșrdios ou excĂȘntricos: flores, comidas, decoração ou as icĂŽnicas toalhas brancas. TambĂ©m devem ter agido como as grandes bandas de rock: quebrado quartos de hotel e esvaziando extintores.
A volta para casa revelou a realidade dos fãs de rock e, mais especificamente, dessa banda. O show foi espetacular, e o Guns arrebentou, mas demorei a compreender o que me pareceu somente falta de amor próprio. Presenciando aquele cenårio, apesar dos meus irresponsåveis 17 anos de idade, comecei a cultivar uma certa desesperança na Humanidade.
As cercanias do local do show estavam povoadas de gente jogada nas sarjetas e calçadas. O meio-fio virou um âfast-foodâ para doidĂ”es Ă procura de fragmentos de estupefacientes suficientes para aplacar a abstinĂȘncia. Os que pareciam melhores revelavam seu bom estado caçando bitucas de cigarros e restos de cerveja em latas colhidas no chĂŁo. Essa impressĂŁo Ă© sĂł um recorte da decrĂ©pita cena. Tudo lembrava um apocalipse zumbi ou, na mais generosa conclusĂŁo, um salve-se quem puder. Vendo aquilo tudo com muito boa vontade e inclusive a empatia de quem assistiu o que aconteceu dentro do estacionamento do Anhembi, entendi a dificuldade em voltar para a realidade.
Contudo, estĂĄvamos na Zona Norte de SĂŁo Paulo, o caĂłtico e histĂłrico show havia terminado, entĂŁo cada um teria que retornar Ă sua vida, muitas vezes, suburbana e/ou sub-humana. Pensando nisso, era atĂ© compreensĂvel que muitos se recusassem a esperar um ĂŽnibus e recorressem aos restos de nada.