Fotografia
A beleza do dia que começa
Adolescentes indo pro colégio
A pressa do camelô pra abrir o comércio
A solidão do banco de praça
E quanta história esqueceu de ser contada?
Ainda jogada pelos cantos...
Meus olhos encontram tristeza por onde passa
Nas feições, nas imperfeições, nos closes faciais entediados de mais uma "feira";
Mas encontram, sobretudo, gentileza, quando alguém desiste de ser máquina, e reparte sua coxinha com um desafortunado;
Quando a pessoa ao lado torna-se semelhante, não estranho...
Choveu...
Lembrei-me do tempo de escola: qual a preocupação? Qual a pressão?!
Era 'passar de ano', suponho.
E os anos se passaram como num sonho que você acorda e quer voltar a dormir...
Estou ficando velho, e o descobri naquele menino franzino, batendo papo bobo com outros de igual despreocupação, a despeito da chuva - e eu tentando me esconder pra não pegar um resfriado; descobri que a criança dentro de mim tem sido morta por asfixia e cansaço...
Meu olhar sempre encontra, de súbito, rostos suplicando algo: hoje, por exemplo, foi um miserável, talvez até doido, como se se rotula, gesticulando e sibilando consigo mesmo palavras indecifráveis - quando nossos olhares se cruzaram, e eu descobri, como quem descobre uma palavra cruzada, naquele ínfimo instante, que não somos nada. Repito: não somos nada!
E ainda fazemos planos, traçamos metas, nos fartamos apesar da fome alheia, vizinha, ao lado...
Eu poderia ter-lhe perguntado:
"Quer um lanche? Pode pegar!
Quer um ouvido?
Quer um abraço? Etc."
Ou apenas ter-lhe servido, sem perguntar.
Mas me acovardei, e preferi ignorar aquele olhar aflito (mais conveniente ignorar, não é?)...