DIÁRIO DE UMA PANDEMIA (Dia 21; Dia 22; Dia 23)
Dia 21
03 de agosto de 2026
Não fui ajudar os médicos chineses.
E tenho vários motivos para recusar o convite do meu amigo.
Tem muita gente no mundo e, por isso, se alguns milhares morrerem por causa desse vírus, todos poderão ver nisso a natureza se autorregulando. Além disso, eu sei que os melhores pesquisadores estão lá. Melhores até dos que os fanfarrões americanos.
A diferença entre os ocidentais e os chineses é que eles não fazem questão de se evidenciar como grandes isto ou aquilo; o contrário dos pesquisadores do mundo ocidental que só fazem algo em nome do lucro, da glória e do nome imortalizado nas páginas das revistas científicas.
Meus amigos são capazes e saberão resolver o problema sem minha presença.
E, por outro lado, se eu for ajudá-los perderia a graça ter usado o presidente para levar ate lá meu produto!!!
Dia 22
10 de agosto de 2026
A Organização Mundial da Saúde vem demonstrando preocupação com a difusão do “vírus chinês”.
Para dar sensação de poder e segurança dizem que já sabem sua origem e como se alastrou… Mas ainda não sabem como controlá-lo.
Ironia do progresso e da limitação da ciência.
Ninguém sabe como combater esse viruzinho de nada. Um ser quase insignificante… Um ser para o qual falta algo pra ser um ser vivo completo!
Agora pensa bem: os seres humanos se consideram o topo da vida no planeta terra. Pintam e bordam; fazem e desfazem; agridem o planeta e se agridem mutuamente; acham que podem tudo… mas não estão podendo dar conta de um ser microscópico.
É bem igualzinho aquele filme, “Guerra dos Mundos”.
Aquele em que os alienígenas estão transformando os seres humanos em adubo para seu planeta e nenhuma das armas das grandes potências puderam vencer os seres espaciais. Mas os grandes conquistadores foram derrotados e mortos pelos “menores seres do nosso planeta”, como diz a voz in off, no final do filme.
Espero que algum dia alguém entenda o que estou dizendo.
E, se sobrar tempo, que a humanidade aprenda a lição!!!!!
Dia 23
11 de julho de 2026
Mas sei lá. Não sei se vale a pena preservar o ser humano.
E se é para preservá-lo temos que fazer uma faxina na casa.
Repensar os valores; repensar os comportamentos; repensar as relações sociais e econômicas. E, principalmente, repensar o sentido de ser humano.
Alguns falam em repensar o mundo e observar os valores cristãos, mas já se vão dois mil anos de cristianismo e parece que estamos regredindo…
Talvez tenhamos que repensar em outros valores…
Talvez repensar o mundo com valores anarquistas….
Talvez repensar o mundo como na proposta “alternativa” do manifesto de Raul Seixas, em “A Lei”:
“Todo homem tem direito de pensar o que quiser
Todo homem tem direito de amar a quem quiser
Todo homem tem direito de viver como quiser
Todo homem tem direito de morrer quando quiser
Direito de viver, viajar sem passaporte
Direito de pensar de dizer e de escrever
Direito de viver pela sua própria lei
Direito de pensar de dizer e de escrever
Direito de amar, como e com quem ele quiser
…...”
Na verdade, se é pra ser preservado, e é a natureza quem vai decidir isso, o ser humano precisa ser reinventado, recriado, redesenhado, reconfigurado.
Precisa se refazer com outros critérios, pois os atuais o estão matando.
E matando o mundo!!!!
Está corretíssima a Pitty, cantando o “Admirável chip novo”:
“Pane no sistema, alguém me desconfigurou
Aonde estão meus olhos de robot
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivo”.
E, como ela canta, é necessário “Reinstalar o sistema”, pois agora aquilo que deveria ser um ser humano só sabe dizer e fazer: “Sim senhor, não senhor!” para os interesses de quem não se interessa pelo ser humano.
O lucro é o deus deste mundo humano...
Se é para repensar… em vez de pensar no lucro, deveríamos pensar nas “futuras gerações”, como o fazem algumas sociedades!