Ela Morreu nos meus braços
Já faz alguns anos, fui a Mogi Mirim, no cartório, registrar uma ata da assembleia geral da Academia Nogueirense de Letras – ANL, com o meu amigo e membro da Academia, o escritor, Dr. Juliano Mendes Ribeiro. Ficamos por lá o necessário para o nosso objetivo e logo retornamos a Artur Nogueira.
Pela estrada vicinal, que encurta a distancia entre as duas cidades, voltávamos conversando sobre os projetos e o que poderíamos fazer para avançar ainda mais nos nossos objetivos de implantar formas interessantes para a melhor difusão da literatura, com exposições literárias, seminários, concursos de poesias e incentivo à leitura.
Quando passamos pelo local conhecido como “ponte de tábua”, numa curva e logo uma subida, o Dr.Juliano me disse que fosse mais devagar, pois observou que um homem parecia haver caído da moto, logo que ele falou, eu diminui a velocidade.
Quando nos aproximamos do local que ele havia indicado, observei que havia uma moto tombada na esquerda e um homem tentando ergue-la a fim de tirá-la do meio da pista, sem entender o que havia acontecido, o Dr. Juliano o auxiliou, trazendo a moto para a nossa direita.
Olhei e vi na beira da pista do nosso lado, direito, que havia uma jovem senhora caída e uma pequena moto (Biz) tombada ao lado dela. Entendi que os dois haviam se chocado. Corri para socorrer a moça, não tinha mais o capacete na cabeça e sangrava um pouco. Tomei o seu pulso, ainda respirava. Começou a tossir. Coloquei o braço por baixo das costas dela e levantei a cabeça a fim de que ela não se afogasse com sangue. Ela não disse nada, apenas foi tossindo mais fraco e mais fraco, até que parou. Tomei o pulso novamente e não o senti mais, até que deu um último suspiro profundo e não mais, ela havia morrido ali, nos meus braços.
Olhei para o frágil corpo, já sem vida e derramei algumas lágrimas. Que desgraça de morte! Levou aquela jovem em minutos. Mais uma vida que se foi. Até quando, Deus!
Tentei ligar para a polícia, para o resgate, a guarda municipal... Mas não havia sinal de celular no local. Pensei até que fosse o meu celular, um moço que passava ainda de dentro do carro em movimento me entregou o celular dele, tentei, mas não funcionou também. Nisto passava um motoboy, pedi que ele fosse o mais rápido possível pedir um socorro. Assim ele fez.
O homem que provocou o acidente saia de uma chácara, na garupa da moto uma caixa com mandiocas, imprudente, atravessou na frente da moto da moça que não teve tempo de frear para evitar a colisão. Dai entendi que ele estava colocando a moto na direita para confundir uma possível investigação, como se a moça tivesse batido nele e ele é que estava certo. Miserável.
Deixei a mulher ali mesmo, não havia mais nada que se pudesse fazer. Olhei e o homem, desgraçado, estava entrando no sitio, em um mandiocal. Gritei: Escute, a mulher está aqui morta e o senhor vai fugindo? Ele respondeu: Não, só estou nervoso e vou aqui urinar. Mas, ele fugiu.
Soube depois que o prenderam localizando-o pela placa da moto. Mas, no Brasil, crimes de transito não é crime, por isso, penso que nada aconteceu àquele ordinário e assassino.
A jovem, fiquei sabendo, era uma mulher de 27 anos, recém casada e esperançosa de ter filhos e uma família feliz. Por desventura, aquele dia, encontrou-se com a morte, cessaram as suas oportunidades.
Hoje, passo naquele local e vejo uma pequena cruz á beira da pista com seu nome: Eliane Alves Costa, a data da sua morte e o ano: 2010. Triste vida essa nossa, tão frágil. Por isso a bíblia diz: “Somos como o vento que passa, como a brisa da manhã que se desfaz.”
Poeta Camilo Martins
Aqui, Hoje, 03.07.2015
20h26min [Noite]
Estilo: Crônica da vida real