UM PÉ DE COQUEIRO E A CASA DE PASSAGEM...

"Uma casa deve ter varandas para

sonhar,

Cantos para chorar,

Quartos para os segredos e a

ambivalência."

( Lya Luft )

Esta "Casa de Passagem", refere-se a casa onde eu passava os finais de semana com a minha família, pois durante a semana eu ficava no sítio com meus pais, rodeada de verde, de liberdade , em meio a muita natureza.

Nessa época ainda não estudava, por isso tive o privilégio de morar no sítio, diferente dos meus irmãos que já estudavam na cidade.

Me chama atenção, até os seis anos de idade, não ter tantas memórias internas daquela casa, não me recordo dos móveis, da sala, dos quartos, dos detalhes, as imagens são muito vagas , quase que se apagaram.

Porém, ficou muito viva a lembrança de um pé de coqueiro enorme, bem na fachada daquela casa e das parreiras de uva que a minha avó plantava.

Ali, ao ar livre, eu sentia o pulsar da vida, gostava de apreciar o movimento do balanço daquele coqueiro, saboreava as uvas, bem diferente do interior da casa que era antiga e para mim parecia ser um lugar meio desvitalizado.

Lembro das brincadeiras de criança e quando corríamos nas ruas com as minhas primas e primos e a minha irmã, dois anos mais velha que eu.

Ah! Mas o que ficou nas minhas lembranças também foi o cheiro das guloseimas e das balas que comprávamos na venda da esquina.

E que alegria poder rodar o baleiro giratório de vidro antigo!

Ali, saboreávamos o "doce da felicidade"!.

Talvez naquela casa eu ainda não tivesse um "lugar simbólico", pelo pouco tempo de convívio e por não morar ali, apesar de me sentir acolhida pela minha família.

Lá, eu não tinha o meu quarto, as minhas coisas, não tinha tanto contato com outros irmãos,( era a caçula de nove irmãos) e eles eram bem mais velhos que eu.

Talvez por isso, não me recordo tanto das vivências familiares daquele período.

Depois desta casa de passagem, mudamos para uma outra residência, porém a mesma era toda concretada, não tinha jardins e nem quintal para brincar.

Para estudar tive que morar nesta nova casa e deixar o sítio.

Ali, o contato com meus irmãos mais velhos se intensificaram e pude então resgatar o convívio com eles novamente.

As lembranças das três casas da minha infância onde morei permanecem dentro de mim, e ao integrá- las consigo fazer essa religação com o meu próprio Self unindo a minha totalidade psíquica.

As casas são as nossas moradas sagradas, uma imagem universal, como diria Jung.

É lá que encontramos abrigo, aconchego, segurança e cada um de nós a encontra dentro de si, na sua morada interior, seja do jeito que ela for.

Nossas casas são nossos próprios santuários. A forma como arrumamos, como a organizamos, remete a nossa própria "morada psicológica".

Quando falamos das características das nossas casas, parece que estamos falando de nós mesmas, um prolongamento do nosso próprio Self.

Elas representam muito mais que moradia, lá se encontram entrelaçadas as nossas histórias, vivências familiares, nossos sonhos, memórias e o abrigo das nossas almas que se eternizam no tempo!.

Ah! Nossas casas, nossas moradas

infinitas!.