Nos telhados do poder

“Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de roupa - não para salvar a vida, como comemos e dormimos, mas por aquele respeito alheio por nós mesmos, a que propriamente chamamos asseio.(Bernardo Soares)”

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A sua imponência vem me importunando; diariamente. Começo a dar-me conta de seus defeitos - antes tão ignorados, como no convívio do covil infantil: todo gesto é motivo de sorrisos... Mas lá, já cedinho, sua arrogância nata bate à minha porta. Sem pedir licença, vai entrando, encosta-se, ludibria-me de lado... Depois, arranha machucando sem carinho!

- É hora de um castigo! - Zanguei-me. Afinal, como dizem os mais afoitos: não tenho sangue de barata.

Mas aí olhando fundo nos seus olhos e gestos, repenso sobre meu premeditado ato de selvageria; ela não faz por mal. Na consciência do seu pequenino mundo, quer apenas ser notada - diferente de todo desafeto. Esse não entende atitude simples de alegria febril em toda manhã; não vê e não compartilha da essência da vida que renasce na aurora com um estridente cântico do bem-te-vi, bem aqui: na minha janela... Ele sempre associa felicidade com poder, brilhos efêmeros, gozos passageiros...!

Na sua petulância, ele nunca vai entender essa nossa maneira de ser. E, por instante, caio no mesmo mal... Arrogância! Penso castigá-la. Vejo maldade em suas atitudes. Quem sabe, uma ou duas palmadinhas; e um desprezo durante todo o dia. Mas ai já seria castigo demais: afinal, ela está apenas se utilizando – involuntariamente - dos métodos de homens públicos. Primeiro, os afetos; depois, as garras do inconformismo. Essa é a saga pela busca do poder, com o paladar recluso ao doce do ato de querer ajudar sem segundas intenções.

Homens...! Homens públicos...! Homens de ações devastadoras dos cérebros menos afortunados: “Pobre quando estuda fica perigoso.” Castrem-no! Oportunidades, apenas, aos desvinculados dos que não tem vez, nem voz! Assim, vão criando seus chiqueiros políticos familiares de ossos importantes: “...repugnam a sua própria porcaria, mas se não afastam dela...”

Pelo nosso bem-estar, estamos perdendo o respeito por nós mesmos. Cada vez mais ficamos reféns dos costumeiros escárnios públicos. Na nossa inércia – em frente á tela da TV - até brigamos... Travestimos-nos de guerrilheiros da boa caus. Gritamos sempre não! Mas aí notamos que também já estamos sujos e hipnotizados por frases e atos politiqueiros. Somos reféns das “patas” dos infortúnios políticos - mesmo com nossa luta vã de palavras que, daqui um pouco, serão esquecidas.

Esquecer! Não... Não posso esquecer o castigo. Espero que ela não aja mais como político de plantão; sem afagos nos futuros “reféns” de sua prepotência. Quem sabe, assim, não me tratará de forma mais... Animal!

- Pronto! seu castigo será sentir a sensação de estar no alto e depois... "descer"!

Pelo menos, enquanto lá estiver (nas alturas), saberei que estarei salvo de suas garras. E quando precisar descer, torço para que volte com menos... Arranhadas politizadas!

Isso, se não resolver ficar de vez no telhado!

Kal Angelus
Enviado por Kal Angelus em 26/11/2007
Reeditado em 03/12/2007
Código do texto: T753667