🔵 A terapia dos dinossauros.
No Dinossauros Rock Bar, em Pinheiros, São Paulo, subiam ao palco cada um dos integrantes da banda Dinossauros. Notei que entre os músicos estavam duas figuras conhecidas: José Luís Tejon Megido (violão e voz), jornalista, publicitário, escritor e exemplo de superação, entre outras atividades e Roberto Shinyashiki (guitarra), psiquiatra, escritor e palestrante. Sendo que o segundo é um manjado escritor e palestrante de, digamos, auto-ajuda.
No princípio, achei que aquela cena toda se tratava de uma “pegadinha” ou um “telegrama animado”. Pronto, um simples chope ao som de “rock and roll” havia se transformado num momento catártico do tipo terapia em grupo. Então, meu propósito era descobrir onde estavam as câmeras, microfones e para que emissora seria a transmissão da armadilha, bem como quem era o apresentador da palhaçada toda.
Sempre fugi de “coachs” animadões. Eles entram no palco pulando, vomitando um lote de frases feitas e afirmando que você é um vencedor (sabendo que muitos ali vieram de ônibus) e logo você se vê abraçando uma pessoa estranha ao lado, chorando, batendo palmas e gritando “u-hu”. Eu tinha que escapar daquela arapuca. Nunca imaginei que um simples sábado de noite poderia ser convertido numa enfadonha e inesperada convenção do Anhembi. Para alguém tímido, esse tipo de evento deve ser evitado.
As horas passavam, a banda voltava a tocar (após os intervalos), entretanto nada diferente acontecia. Quando reparei, minha paranoia não se realizou, ficou apenas na minha cabeça. Chope, banda ao vivo, conversas e risos..., tudo o que eu esperava de um bar de rock sábado a noite.
Os palestrantes de superação e auto-ajuda tocaram e cantaram direitinho, eu não precisei me submeter a nenhuma cura holística. Nunca encontrei alguma alma penada procurando uma jornada interior num boteco de rock. Isso pode ser facilmente encontrado lá pelos lados da Vila Madalena, mas essa aventura deve ser evitada.
No meio de gente mentindo em alto e bom som, gargalhando exageradamente, enfim, fingindo ser alguém, interpretando no teatro da vida, entre cinzeiros sujos e copos vazios, muitos tinham mais a revelar num banquinho de bar do que num divã. Os psiquiatras não poderiam estar em um ambiente mais confessional que num barzinho, sob o efeito do álcool e num sábado de noite.