OLAVO BILAC

OLAVO BILAC E AMÉLIA DE OLIVEIRA

Nelson Marzullo Tangerini

Relendo a Antologia de poetas fluminenses, de Rubens Falcão, publicada pela Editora Gráfica Record, Rio de Janeiro, 1968, eis que encontramos a bela história de amor entre os poetas Olavo Bilac e Amélia de Oliveira, irmã do poeta Alberto de Oliveira. Obra fundamental para todo aquele que se propõe a estudar a história da vasta literatura fluminense, pois Falcão coloca ali um grande número de poetas que ficaram esquecidos pelos cânones da literatura brasileira; faz o pesquisador uma boa coleta de textos poéticos de talentos que esperam saltar do anonimato para a luz do sol que ainda não brilha para todos.

A história de amor sem um fim “romântico” para os parnasianos Olavo e Amélia nos fez lembrar, por exemplo, na literatura, a triste separação entre Fernando Pessoa e Ophelia, ainda não entendida por todos nós, embora a musa de Pessoa não tenha sido poeta.

“Amélia de Oliveira era irmã de Alberto e, como ele, natural de Palmital de Saquarema, RJ, onde nasceu, a 14 de abril de 1868”. Menos famosa que o irmão, Amélia demostra conhecer, em seus sonetos, a magia que regia o movimento parnasiano, ainda que não fizesse parte do “Clube do Bolinha”.

Enfim, “após o rompimento do noivado, Bilac lhe dedicaria, desesperado”, e talvez arrependido, “o famoso alexandrino “Tu foste a só!”, que aqui republicamos:

“Durma, de tuas mãos, nas palmas sacrossantas,

O meu remorso velho e pobre como Jó.

Perdoando-te, a melhor de tantas posses, tantas,

Malsinado de Deus, perdi... Tu foste a só!

...

Ao céu, por teu perdão, a minha alma, que encantas,

Suba, como por uma escada de Jacó!

Perdi-te... E eras a graça, alta entre as saltas santas,

A sombra, a força, o aroma, a luz... Tu foste a só!

...

Tu foste a só! Não valho a poeira que levantas

Quando passas! Não valho a esmola do teu dó!

Mas, deixa-me chorar, beijando as tuas plantas.

...

Mas, deixa-me clamar humilhado no pó:

Tu, que em misericórdia as Madonas suplantas,

Acolhe a contrição do mal... Tu foste a só!”

Com altivez, Amélia parece responder-lhe com o soneto “Prece”:

“Não te peço a ventura dsejada,

Nem os sonhos que outrora tu me deste,

Nem a santa alegria que puseste

Nessa doce esperança já passada.

...

O futuro de amor que prometeste,

Não te peço! Minha alma angustiada,

Já te não pede, do impossível, nada,

Já te não lembra aquilo que esqueceste1

...

Nesta mágoa sofrida ocultamente,

Nesta saudade atroz que me deixaste,

Neste pranto que choro ainda por ti.

...

Nada te peço! Nada! Tão-somente

Peço-te, agora, a paz que me roubaste,

Peço-te, agora, a vida que perdi!”

Prossegue Rubens Falcão, tentando esclarecer o porquê do término do noivado:

“Amélia morava com os pais numa chácara da Engenhoca”, bairro de Niterói, desde 1885. Frequentavam a residência do casal José Mariano de Oliveira e Ana Ribeiro Mendonça de Oliveira, jornalistas, escritores e poetas em evidência na época: Pardal Mallet, Paula Nei, Luís Delfino, Raimundo Correia, Filinto de Almeida, José do Patrocínio, Artur Azevedo, Raul Pompéia, Guimarães Passos, os irmãos Lúcio e Salvador de Mendonça, Valentim Magalhães, Olavo Bilac”, entre outros. “Uma Corbélia de intelectuais, destacando-se o autor de ‘Inania verba’ que logo se rendera aos encantos da filha dos donos da casa e passara a cortejá-la. Por fim, desapareceu. Amélia, desvanecida, de ainda rever Bliac em visita à Engenhoca, exprimiu o seu sentimento neste outro soneto”:

“Talvez já tudo tenhas esquecido:

Aquela casa e as árvores frondosas

Da entrada do caminho e as brancas rosas

E o coqueiral , altivamente erguido.

...

O bando de aves tímidas, saudosas,

A desferir seu canto enternecido,

E aquele céu azul, indefinido,

Cheio de sóis, de estrelas luminosas.

...

Quanta mudança encontrarás se um dia

Ali fores!... Tristonhas, tumulares,

O arvoredo, o rosal... O espaço mudo.

...

E só, errante, a soluçar, sombria,

A saudade acharás se ali voltares.

Mas... talvez tenhas esquecido tudo!”

Foi”, dizem os que com eles conviveram, “a musa de Olavo Bilac” (* 16 de setembro de 1865 - + 28 de dezembro de 1918), “de quem” Amélia “chegou a ser noiva”, como aqui dissemos. Ambos, porém,”terminaram a vida “solteiros. A sonetista morreria a 5 de março de 1945, no seu apartamento da Rua São Clemente”, em Botafogo”. Foi sepultada “junto no jazigo dos pais, no cemitério de Maruí, em Niterói, RJ. Sobreviveu mais de um quarto de século ao” poeta “de Via Láctea”.

Henriqueta Galeano, escritora cearense, escreveu que Amélia era “dona de uns olhos negros, cheios de mistérios e poesia (...), encantadora morena que, tímida e receosa, procurava ocultar dos profanos o amor que, espontâneo, já a dominava".

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 11/06/2022
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