Escrevo para me esconder
Escrevo para me esconder, não há melhor esconderijo do que as palavras, as narrativas, os poemas, romances e ficções. E você, leitor, lê não a mim e sabe que aqui não me encontrará, mas lê o que você quer ler de mim. Porque quando você lê as palavras, mesmo sabendo que elas são fantasias, opta por considerá-las realidades. Você, leitor, não tolera que um escritor se esconda, pois você vem aqui para vê-lo nu. E eu sei disso, então me cubro de palavras, de frases, de filosofias. Vá para o diabo, seu voyeur! Seu pervertido que busca insinuações em letras, em ideias, em prosas. Ora, você quer saber algo sobre mim, é fácil, eu sou tudo aquilo que não digo. Eis, aí, meu caro tarado literário, busque no vazio literário quem eu sou. E talvez, nesse vazio você também se encontre. Como Pessoa, me dou a um momento ser livre, livre do mundo, livre dos homens e ser eu mesmo em essência. Ah, você jamais verá minha nudez! Ser livre é ser solitário. E não dá para ser solitário o tempo todo, mas à noite me recolho, fecho as janelas, tranco as portas, fecho as cortinas e não durmo, fico acordado sob a face assustada de Deus.