Na quarta de carnaval
Às vezes, e bem às vezes mesmo, eu finjo que minha vida é um filme, um drama com alguns toques de humor mas quase sempre pesado e com suspense. Minha vida está voltando à rotina e assim a ansiedade vai se acalmando pro cansaço tomar conta. No meio disso tudo, vou aprendendo com novas pessoas, novos jeitos e novas conversas e ser o que quero e rejeitar o que não gosto de jeito nenhum.
Minha empresa é de nobre estirpe (olha que rebuscada) e isso me deixa incomodada e reflexiva. Parte do meu serviço é organizar salas de reunião e receber clientes importantes. Interessante que tais pessoas, pelo menos pra mim, vivem num mundo totalmente paralelo ao meu. É um outro universo, saca? Desde não deixarem a cadeira no lugar quando a reunião termina - o básico do bom senso - até bufar e revirar o olho quando a máquina de café não funciona, sendo que era somente necessário apertar o botão. Aí que tá: Essas pessoas sempre foram assim? Criadas assim? Como assim?
Nesse exato momento tem uma pia de louça para lavar na minha casa e não vejo a hora de terminar essa tarefa; e não que eu seja um esmero de dona-de-casa, mas sei que uma pia limpa e melhor que uma pia acumulada. Entende? Mas essas pessoas com que tenho uma convivência extremamente superficial, me fazem refletir sobre criação e circunstâncias.
De onde isso vem? Da cultura colonial do servir e ser servido? Meus pais me criaram errado então?
O mais maluco é que realmente fico confusa. Ontem mesmo na academia, um senhor se irritou com duas crianças que estavam atrapalhando o treino dele os chamou de "viadinhos" (eram dois meninos). Eu fiquei pasma, pasma dos pais não falarem nada para o senhor (fazendo assim até uma certa concordância com a chamada de atenção) e nem falaram com os filhos (para fazer a correção certa). As crianças continuaram correndo e o clima ficou chato, um silêncio. Um conformismo irritante.
Tem uma figura pública, uma escritora, que sempre reclama da falta de manejo com a maternidade. Ela reclama que às vezes a filha tem bafo por não querer escovar os dentes, ou na vez que a filha a chamou de idiota 18 vezes. Dezoito vezes. O que ela fez? Nada. (Ouvi num podcast essa história, ela é bem real)
Aí a filha cresce, trabalha em um lugar que nem a cadeira coloca onde encontrou. Poder ser que não, nem toda receita sai com o mesmo resultado, mas é bem nesse caminho mesmo. Eu sinto como se eu vivesse na quarta-feira de carnaval, que ansiosamente sabe que depois daquilo a vida "dura" começa de verdade... Na verdade ela começou faz tempo. Já outras pessoas estão no eterno camarote... Não importa qual escola vença.