Adeus às bibliotecas?

 

          1. Escrevo esta página depois de ler "O fim das bibliotecas", crônica do brilhante historiador Leandro Karnal, no seu novo livro, "O coração das coisas", já nas livrarias. O excelente texto do Mestre Karnal sensibilizou-me bastante, e eis o motivo pelo qual trago-o para este espaço, que ocupo no Recanto das Letras, desde dezembro de 2006. Há quase 16 anos, portanto. 

          2. Mestre Karnal inicia sua crônica com esta frase: "Sempre senti o fascínio poderoso por bibliotecas". E desenvolve seu trabalho, mostrando o quanto as bibliotecas - que ele chama de "espaço de livros enfileirados" -, são necessárias, para a completa formação cultural do cidadão. E disse de forma completa; sem apelar para o "óbvio ululante". Em determinado momento, mostra sua preferência pelo livro de papel, que as bibliotecas acolhem, sem menosprezar o livro digitalizado, com o que concordo plenamente. 

          3. E aqui o grande historiador adverte: "Se alguém alegar que só consegue ler em papel, deve ter cuidado, aproxima-se o dia em que não apenas os livros físicos serão descartados, mas os leitores deles, ambos, aparentemente obsoletos". 

          Faz na sua crônica, de maneira carinhosa e transbordante de nostalgia, referência à sua biblioteca particular; a que ele mantém em casa, levando-a consigo nas mudanças de domicílio, apesar do trabalhão. Não esquecendo de fazer menção ao erudito conteúdo que as bibliotecas oferecem, a partir dos livros que acolherem.

          4. Apesar da sua devoção por elas, vejam o que diz Karnal sobre o futuro das bibliotecas: "Minha biblioteca privada vem diminuindo e só conservo obras raras, livros afetivos ou autografados por escritores conhecidos. Baixo mais livros do que compro novos em papel. Suponho que, em alguns anos, prédios de bibliotecas serão como os templos egípsios no vale do Nilo: imensos, solenes, narradores pétreos de uma glória antiga e, sem fiéis ou sem deuses, apenas com turistas e selfies".

          5. Confesso que também sou um apaixonado pelas bibliotecas. Sempre advoguei que toda cidade tenha sua biblioteca, como tem sua igreja. Minha biblioteca particular, montada no meu apartamento, com mais de trezentos livros, é um dos meus amores.           Guardo nas suas estantes biografias, memórias, livros religiosos, livros espíritas e livros de crônicas de bons cronistas: Olavo Bilac, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Oto Lara Rezende, Rubem Alves, José de Alencar, Rachel de Queiroz dez, Martha Medeiros, Cecília Meireles,  Ruben Braga, o sabiá da crônica e de Machado de Assis, o maior de todos.

          6. Lendo a crônica do Mestre Leando Karnal sobre o possível fim das bibliotecas, lembrei-me dos que adoram ler, mas não podem comprar livros. Se socorrem das bibliotecas públicas. Não apenas como um mero visitador de boas obras, mas, principalmente, para fazerem pesquisas, para trabalhos em seus colégios ou nas Universidades.  Sim, os livros didáticos estão caríssimos; e não somente eles.

          7. Dia desses, entrei na maior livraria de Salvador no propósito de adquirir alguns livros. Consultei meu cartão de crédito e desisti da compra. Não saí da livraria com as mãos abanando porque  descobri, num cestão esquecido, um livro do admirável romancista Josué Montello, vendido ao preço de um cacho de banana, perdoem a ênfase... Pode uma coisa dessa, meu caro leitor, também amigo e frequentador das bibliotecas? Não, não pode.

          8. As bibliotecas estão mesmo desaparecendo? Podem não estar, mas que cada vez mais se digitalizam os livros de bons escritores, não há como negar. Com todas as vantagens que a internet possa oferecer nesse ramo, gosto mesmo é do cheirinho do livro, até dos visitados pelas traças.  Acompanho, sem tergiversar, o professor Leandro Karnal, quando ele afirma, na sua crônica, "Amo bibliotecas".  Lutarei por elas. 

 

 

 

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 09/06/2022
Reeditado em 17/06/2022
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