A IDADE DO MEDO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) tomou uma medida, que eu particularmente considerei muito interessante. Trata-se da elevação da idade para que uma pessoa seja considerada velha, ou seja, 75 anos – idade da qual ainda estou bem distante, o que necessariamente não quer dizer que eu seja uma “cocotinha”.

Considero a velhice um estado de espírito, mas é inegável que a vida torna-se muito difícil na medida em que a pessoa vai “caindo na idade”. Especialmente neste imenso Brasil varonil, onde um considerável contingente de pessoas não tem respeito ou consideração pelo idoso.

Uma pergunta, porém, vem me atormentando após cada comemoração do meu aniversário: Qual é a vantagem que a gente tem ficando velho? Quando esta pergunta vem à tona em qualquer conversa de mesa de bar, todo o mundo ressalta a experiência e sabedoria acumulada pelo idoso ao longo da vida, o que para mim não é vantagem nenhuma.

Duvido que alguém neste mundo de meu Deus afirme, com sinceridade, não sentir-se preocupado com a proximidade da velhice. Na minha opinião, as pessoas envelhecem porque não podem fazer nada contra. Se tivessem como impedir o processo do envelhecimento, com certeza o fariam. Infelizmente a fonte da juventude não passa de um mito.

À medida que vou “amadurecendo”, vou também percebendo que a vida moderna não dispõe de lugar para as pessoas de idade. Este fato pode ser facilmente constatado se observarmos os idosos nas paradas de ônibus. Alguns motoristas viram-lhes o rosto, enquanto outros simplesmente não param no ponto, como se o idoso fosse um cidadão de segunda categoria ou como se a velhice fosse uma doença contagiosa.

Os assentos reservados para eles nos transportes, tiveram a quantidade reduzida, assim como dificilmente alguém cede seu lugar a um idoso que viaja em pé. É triste constatar, mas a grande verdade é que os idosos são considerados um extorvo para os mais jovens.

A idade chega trazendo uma série de inconvenientes à vida das pessoas. Uma delas é a quantidade de doenças que aparecem à medida que a pessoa vai envelhecendo. O rosto vai ficando marcando pelas rugas; o corpo vai perdendo a força, a rigidez e já não acompanha a velocidade da mente. As mãos perdem a firmeza. A pessoa passa a viver de lembranças daquilo que foi. O pior é a dependência que o idoso passa a ter para solucionar seus problemas, tendo que ficar sujeito à disponibilidade e boa vontade de outrem.

Tudo passa a ser reduzido no momento em que uma pessoa chega à chamada “terceira idade” e a primeira delas é o salário. Este, que é tão necessário para a compra de medicamentos neste momento, sofre um profundo corte e o idoso é obrigado a se adaptar a uma nova realidade passando a viver com menos dinheiro.

Quando o velho decide “não entregar os pontos” e passa a freqüentar os grupos da “melhor idade”, onde eles se reúnem para conversar, paquerar e dançar, revivendo o tempo de sua mocidade, as “Candinhas” caem matando, com comentários maldosos. A situação é ainda mais drástica quando se trata de uma idosa.

A velhice é um assunto discutido há séculos. Segundo Platão, para o ser humano prudente, a velhice não constitui nenhum peso e com a chegada da velhice surge no ser humano um sentimento de paz e libertação. Cícero, diz que os idosos substituem os prazeres corporais pelos prazeres intelectuais. Para o filósofo romano, Sêneca, a velhice é boa como tudo o que é natural. Ele não vê a velhice como sendo uma decadência. Na ótica dele, é necessário que se aceite o processo de envelhecimento para que se tenha tranqüilidade e aproveitar essa fase da vida.

Analisando o que dizem os filósofos acerca da chamada “melhor idade”, surge o dilema: Se por um lado é doloroso envelhecer, acredito que seria pior ficar jovem eternamente. Não deve ser nada agradável ver as pessoas completando um ciclo natural na sua existência, nascendo, crescendo, envelhecendo e morrendo, enquanto você permaneceria eternamente jovem e bela – como as sereias.

Sobre a juventude e a velhice, Mimnermo, em Fragmentos, fez a seguinte afirmação: A bela juventude é como um sonho frágil, que dura pouco: sobre a cabeça do homem logo pende a funesta, a horrível velhice, que o torna, ao mesmo tempo, disforme e desprezado, envolve os olhos e a alma, destrói-os e ofusca-os.

A velhice, portanto, me muito dá muito mais medo do que a morte. Mas se me fosse concedido o direito de escolher entre ficar velha ou morrer ainda na “flor da idade”, quando eu sinto que ainda preciso realizar uma série de coisas muito importantes, confesso que ficaria indecisa. Não saberia qual caminho tomar.

A morte seria a renúncia total aos sonhos e planos. Envelhecer é correr o risco de conviver com o preconceito, o descaso, as doenças, a solidão e a falta de paciência das pessoas. É ter que me acostumar a olhar no espelho e vislumbrar um novo rosto marcado por rugas, as quais irão denunciar todos as alegrias, tristezas e dores naturais acumuladas ao longo da vida.

É uma dura escolha e eu estou agradecida por não ter que fazê-la. Como a decisão é muito difícil, vou esperar para ver se consigo chegar aos 75 anos. Até lá, eu certamente deverei ter acumulado experiência suficiente para saber o que fazer com a minha velhice. Pelo menos é o que espero.

25/novembro/2007