Meu pedacinho de céu

Acredito que poucas pessoas tiveram o privilégio de ver o céu em vida. Eu tive.

Ele existe e para vê-lo, não é necessário olhar para o alto, esperando anjos que nos levem a seu encontro, ele está aqui.

Lá é o lugar onde encontra a paz, o tempo passa devagar, o ar é mais leve, tem prazer em respirar.

O céu é onde há alegria, sensações que não quer que acabe. Onde o amor se apresenta, as amizades são sinceras, que o incenso é o cheiro do mato, tem gosto de canela, é formado por nuvens produzidas por um aromático fumo de rolo.

O meu é verde. É grama, é mato, árvores, florestas.

O louvor é moda de viola, Deus trabalha por nossas mãos, mãos que plantam, colhem.

No meu céu tem rio, riacho, bicas. Tem uma praça, com uma igreja cravada, meticulosamente no meio.

Lá existem pessoas boas, há também as ruins, mas não me afetavam.

Foi por acaso que descobri que o céu existe. Em uma troca de olhares, pude ver refletido nos olhos de uma sereia. Podem estar se perguntando: "Sereia no céu? No mato"?

Sim. Disse do rio, sereia de água doce.

Haila, Eldora, Dione, são tantos os nomes dados a sereias, mas como meu céu é brasileiro, a chamo de Iara.

Antes de conhecer o céu, estava perdido, caminhando no mundo, sem foco, sem rumo. Lembro exatamente o momento em que pude ver, refletido em seus olhos. Haviam anjos e um Deus próximo. Como se em oração, entrasse em transe. O Nirvana se fez ao som de uma moda tocada a poucos metros dali.

Pude provar da satisfação eterna, da pureza do humano, da perfeição que é o céu em vida.

Talvez isso tenha aumentado minha confiança, a ilusão de ser imortal. E o limbo se apresentou.

Não me queixo, mas às vezes lágrimas insistem em rolar, talvez tentando recriar o rio e a sereia encontrar.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 08/06/2022
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