São Salvador- BVIW

Quem é besta de ir para a Cidade Baixa e não pedir as bençãos do Senhor do Bomfim? Amarrar umas fitinhas no braço com os pedidos ajuda o Santo a lembrar da promessa sem jeito. É que o sincretismo na Bahia é muito forte, mas não é só o religioso, a cultura também merece um lugar de destaque, pois com o processo histórico da colonização formou-se novos costumes, ideologias e crenças. Eta, Bahia porreta! Em cada gueto, becos e vielas, favelas ou mansão, bate o tambor da miscigenação. Baiano não morre, adormece no mar no colo de Yemanjá, e se ficar doente, água benta com chá de ervas, cravo e canela e a reza da mama África vai sarar. E, para agradecer, sobe de joelhos os degraus da igreja que é para merecer um tantinho do olhar de Deus. Já abençoado, renovado e rico de esperança, tenta a sorte no vestibular, porque se depender do ensino público não passa das casas dos 14 anos. São tantos paredões, sexualidade e violência, que os excluídos estão virando regra. A calorada dos universitários é um point de comemoração, diversão e forró. Mas, nem só de festa e de promessa vive o baiano, e o espírito empreendedor baixa de acordo com a maré, por falta mesmo de políticas públicas. E, como a Bahia é carente de indústria, a voz do axé, a fé, o acarajé do Rio Vermelho, o berimbau do Mercado Modelo e Milton Santos contam histórias. A contação de história é uma tradição desse povo aguerrido, esquecido, mas lembrado por Glauber Rocha, defendido por Rui Barbosa, assistindo por Elsimar Coutinho e reverenciado por Dodô e Osmar.

Jaciara Dias
Enviado por Jaciara Dias em 07/06/2022
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