Desaprendi a ser poeta

Desaprendi a ser poeta, faz tempo que os versos já não rimam, as letras já não dançam e os textos já não se criam.

Os versos, agora engessados, não carregam mais o peso da melancolia de um mundo todo. Assim como chuva parou de transbordar arrepios juvenis, quando foi que parei de sentir tanto?

O paradoxo, no entanto, está na contradição insolúvel da minha existência, nunca aprendi a ser poeta, mas estou convencida de que desaprendi.

A rebeldia de uma adolescente reprimida passou batido, já não tenho tempo para descontar a raiva no mundo exterior, muitos conflitos internos ainda existem, com a ressalva da intervenção da maturidade adquirida com o tempo.

Apesar dos fracassos e frustrações constantes, me tornei mais amena no que tange a poesia, muito embora ainda me derreta ao ler outros autores.

O fogo que arde em meu âmago ainda permanece, sinto que há muito o que escrever, mas preciso reaprender a ver o mundo com os olhos poéticos que me fugiram do rosto.

A sensação de uma grande mudança em frente permanece, quem sabe a poesia me surpreenda, possuindo ao meu corpo assim como antes, até lá me desfaço em versos simples, esperando que a chama continue queimando.

Brenda Nascimento
Enviado por Brenda Nascimento em 06/06/2022
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