A vida é uma bela filha da p*ta

Outro dia, cheguei em casa e depois de um dia merda no trabalho - como tem sido ultimamente - e pedi seis coronas para aliviar a semana.

Era sexta, peguei folga e só trabalharia na segunda, e o momento era maravilhoso pra relaxar. Enquanto vencia a inércia do sofá para ir pegar as ampolas, lembrei de você me falando pra pegar um casaco e senti seu cheiro na sala.

Sorri, deixei as chaves caírem do bolso, e fui para o portão.

Na época, o russos ainda não tinham nem sequer chegado em Azovstal - antiga fábrica ucraniana da era soviética, com uma puta rede de túneis subterrâneos. Nessa época eles estavam ainda saindo com tropas da Criméia - batalhão "Z" e essas coisas.

Lembrei do Bacardi que tenho no freezer, e enchi um dos copos. Tomei três tragos, que desceram amargos. Adocei com cerveja, e tudo ficou bem. Acendi um baseado na cama e pensei em te escrever.

Vindo do trabalho, escutei um pagode "mela cueca" dos anos 90 e me lembrei de você, e da gente cantando essas merdas dando faxina na casa. "As histórias que antes tivemos, foram uma espécie de preparação".

Aqueles detalhes musicais dignos de um verdadeiro sommelier de pagode - nada.

Gosto de música, independente do tipo, ou nacionalidade. Viajo por instrumentos e sons e na sensação que eles me trazem - seja paz, ou ódio. Sempre é bom saber lidar com os dois.

Mas... A música.

Ela tem o poder de fazer a gente viajar.

Transporta a gente.

Te digo que desde que "a gente" não foi mais "a gente", esta casa não toca mais um Roupa Nova.

Porém, adotei o Nirvana - junto com o Racionais, indo pro trabalho - "In Bloom", é pra acordar e "The Man who sold the world" dialoga com a desigualdade de SP do Racionais. E quase sempre depois dela, por aqui, rola: "Da ponte pra cá", até porque o frio que ando pegando, "tá de fuder" quando tô indo pro trampo.

Lembro de você, porque era só contigo que eu trocava esse tipo de idéia.

O problema, baixinha, é muito simples.

Sem você o samba, desanda.

E eu fico em monólogos eternos encarando as paredes brancas da minha sala.

Fico feliz por ver o quanto você cresceu como pessoa e o quanto evoluiu.

"Nada acontece por acaso".

O que pude observar nas tuas idéias, e devo dizer que li todos os seus textos e os amei como você diz amar.

Em silêncio - velado, talvez.

Porém com toda intensidade de quem realmente já sentiu reciprocidade em alguém.

Você é, e acho que sempre vai ser a minha escritora favorita.

Tua escrita sempre foi do caralho, e você sabe disso. Ainda tenho teu livro, com todas as cartas que te escrevi em Fortaleza. Tenho você, tenho tua dedicatória, e juras de amor eterno.

As comi, as ruminei, porém continuam aqui.

E pensando nessas coisas, acho que o melhor que faço no meio desse (des) concerto todo, é falar de "nós."

Como se nós, nos unissem.

Marcos Tinguah Vinicius
Enviado por Marcos Tinguah Vinicius em 06/06/2022
Reeditado em 06/06/2022
Código do texto: T7532268
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