A sensação de que estamos de cabeça pra baixo num planeta não esférico é atraente e poderia explicar essa desordem estrutural que assola o mundo. Ao menos, em algumas circunstâncias. Dá até pra entender os conspiradores, em suas teses de que a terra não é redonda. Do ponto de vista da psiqué, seria um alento essa afirmativa.

 

Quem assistiu ao filme "O Poço" percebeu que o protagonista, ao salvar a vida de Miharu, quis mostrar que uma vida que está em risco pode ser salva se praticarmos uma pequena ação de solidariedade. Como Goreng  (Ivan Massagué) bem disse no final: “nenhuma mudança é espontânea”, ou seja, é necessário passar por todos os níveis para se criar compaixão para com os mais necessitados. Talvez esteja aí o grande problema do mundo: passar por todos os níveis, ou quem sabe, ter empatia, tal qual, tivesse passado.

 

Não costumo aventurar-me em discussões desnecessárias via rede, respeito as manifestações de uma república democrática e, por consequência, leio: se me agrada, selecino, e se não, descarto. Simples assim, sem imposições dogmáticas e ideológicas. Sem intenção de tornar-me uma doutrinadora ou algo similar.

 

Nem vincular pessoas ao discurso. Já vi vários cidadãos de joelhos por partidos políticos e suas ideologias e hoje, as tratam como se fossem vampiros, com alho e cruz. Até desejam a morte. Como se ela, por si só, fosse uma sentença.Tudo bem também (como diria meu amigo Marcos Donald) ninguém deve ter compromisso com erro. Reciclar e ressignificar é fundamental. O amadurecimento perpassa pela linha paralela das ideias, assim como as frutas em árvores, mas algumas, apodrecem sozinhas e caem. Natureza!

 

Li ontem uma postagem que transcrevo, tal qual, por estar em redes sociais e ser de domínio público:

 

"Eu votei no Bolsonaro e vou votar de novo. Aqui em casa não falta carne. Será que é por que eu trabalho?"

 

Se a pessoa votou em Bolsonaro e suas justificativas a convencem, ótimo. Se votou no Ciro e tinha argumentos, "bão tamém". Se votou no Pedro da farmácias ou no João do Pé Torto, "não há argumentos para quem já tomou a decisão". As discussões se dão no campo amplo de defesa de pensamentos e ideais. Direita, esquerda, centro-esquerda. Cada um faz o movimento que melhor se adequa às suas perspectivas. Isso é garantia de alternância de poder, imprescindível em culturas democráticas em que impera o populismo. O máximo a se fazer é apoiar ou lamentar. E tudo bem também, afinal grupos extremos são inerentes ao processo democrático.

 

Como o é também a incorporação de mitos e populismo radicais extremos, como se a garantia de elevação da sociedade estivesse vinculada a um salvador da Pátria. O Lulismo e o Bolsonarismo são bem ilustrativos. Embora saibamos que, as leis e a maioria das decisões, passam pelo Poder Legislativo e Judiciário, ou seja, tem um tripé manco aê, meu povo!

 

Mas o que me trouxe foi a segunda e terceira frase da expressão postada: Aqui em casa não falta carne. Será que é por que eu trabalho?

 

A maioria da população brasileira vive com menos de um salário mínimo. Segundo levantamento da LCA Consultores, com base nos indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) trimestral do IBGE, o país encerrou 2021 com um total de 33,8 milhões de trabalhadores (36% do total de ocupados) com renda mensal de até 1 salário mínimo, o maior contingente já registrado na série histórica iniciada em 2012. Em 1 ano, o salto foi de 12,2%, ou 4,4 milhões de pessoas a mais. Além do mais 90% da população brasileira ganha menos de 3.500 reais. E os remanescentes 10% recebem média acima de 10 mil reais.

 

O senhor Adão que planta o alimento, acorda as 4 e dorme as 21. Nunca assistiu TV porque o tempo dele é curto. Ele trabalha mais de 14 horas, por dia. Mas a carne boa, no kilo, sai pra ele a 52 reais. Como tem uma família grande, come ovos de granja, das galinhas criadas por ele. Mas ele trabalha.

 

O Sr. Pedro, aposentado, cuida da mulher acamada e do filho deficiente. Remédio, tratamento médico, plano de saúde, psicóloga... Na casa dele a carne é de frango, porque o kilo é mais barato. Mas ele trabalhou a vida toda.

 

Esses são alguns exemplos verídicos de que o trabalho, por si só, não garante a carne. Aliás, nada está garantido no cenário econômico mundial da atualidade. Vai ter quem culpe a globalização, a Ordem Mundial, o sistema de governo, a pandemia. Fato é que tem mais revista do que notícia.

 

Mas os expert's dirão que foi uma escolha dos que não tiveram a oportunidade de se instruírem e, por isso, estão à míngua. Uma margem da sociedade que tem auxílio, BPC e pronto: tudo resolvido. Assistência social é a solução! Um cala boca bem conveniente. Ao menos no campo dominado por Herodes, "lavei as minhas mãos."

 

Mas, enfim, a carne que é a pauta desse escrito, está em alta. Para os que trabalham também, infelizmente. A vermelha não entra na geladeira faz tempo... Churrasco? Vegetariano! Mas a cenoura não entra nos ingredientes, nem o tomate. E nem meu maior amor, o abacate: 20 pilas o quilo!

 

A minha percepção "equivocada" do mundo, mais pelos valores e princípios, me faz ter compaixão daqueles que não foram escolhidos para comer a ceia. 

 

E outro dia um amigo que atua na área de assistência veio dizer que o seu doutorado em Assistência Humana o fez ser menos cristão. De acordo com ele, Deus não era justo com a maioria da humanidade. E se tornou agnóstico. 

 

Já eu, cristã, digo sem medo. Deus é justo, sim! Injustos são os que repetem, como em sua crucificação, o mesmo grito. E Ele afirmou: "quando fizeres ao menor dos teus irmãos, é a Mim que o fazes."

 

E Deus em sua Santa Sabedoria vai ampliando a dificuldade das fases. No fundo, é um teste. E daqui a pouco: game over!

 

Ah! E se Jesus gostasse de indiretas, seria assim: "Já morri por causa de algumas pessoas aí, mas não me foi dado o valor devido. Eles vão pagar. Vai ver..."

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 04/06/2022
Reeditado em 04/06/2022
Código do texto: T7530703
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