Ressaca intermitente
Não é sempre não. Somente às vezes. É uma sensação. Muito desagradável. Após o despertar de um sono leve, acorda-se pesando-se aproximadamente o peso de uma geladeira frost free duas portas, mesmo que em estado normal o sujeito não chegue a setenta quilos, distribuídos em uma carcaça de pouco mais de um metro e setenta de ossura. É uma sensação muito desagradável esta, um sentimento de que todo o peso do mundo recaiu sobre nossa cabeça, levou nosso apetite, deixando uma fadiga generalizada e o mau pressentimento de uma segunda-feira antecipada, embora em plena manhã de sábado.
Ressaca, é um dos nomes que alguns não especialistas dão a essa sensação de fim de mundo, de prévia de segunda-feira, de mês de trinta e um dias. Outros, otimistas, preferem tratá-la por "dor de corno" e Engov. Até agora, porém, não se sabe ao certo se ressaca mata ou causa apenas lesões morais.
O fato é que ninguém sai ileso de uma ressaca, mesmo os abstêmios; os que dormem oito horas ininterruptas ou de bruços; os que curtem sertanejo, frutas verdes ou maduras, saladas in natura, praticam atividades físicas regulamentares, falam "nós vamos", "dois pastéis", "oito", em vez de "nóis vamu", "dois pástel", "ôitcho". Essas pessoas bem comportadas, fitness e vernáculas, às vezes acontece, ainda que menos frequentemente, também sentem os sintomas da ressaca: o peso da vida, na pessoa jurídica do barril de petróleo, nas alarmantes taxas de desemprego, nos diversos tipos de violência explícita e tentada.
Às vezes acontece, e não há Engov, café expresso ou coado, novela das nove, navegação pela internet que afastem ressaca intermitente. O remédio mais eficaz, como é consenso na medicina, parece ser a prevenção. E como se evita ressaca? Talvez apenas Beatriz da Bahia e seus milagrosos búzios saibam a resposta.