Crônicas de Pai para Filho - Uma história esquecida
Propus contar um caso ocorrido comigo há alguns anos atrás.
Na data do fato, meu pai ainda era vivo. Hoje vive apenas nas memórias de quem ainda não o esqueceu. Lembro-me vagamente que meu irmão estava presente na ocasião, mas não pude confirmar, pois este também já partiu desta existência terrena.
Indagada sobre o assunto, minha mãe disse não ter memória do ocorrido, pois naquela época estava em viagem com minha avó para o Guarujá, no estado de São Paulo.
Pensei então em consultar talvez, algum registro fotográfico do evento, porém, os celulares de antigamente não dispunham da tecnologia de fotografia digital. Câmeras fotográficas eram objetos raros, quase exclusivamente usados por profissionais do ramo.
Tampouco havia registros documentais. Sem atas, sem recortes de jornais, sem comunicados internos, típicos de empresas de médio e grande porte.
A ideia de entrevistar testemunhas oculares esbarrou em pequenos detalhes. A maioria já havia morrido. E as duas testemunhas ainda vivas, se negaram a me receber motivadas por ressentimentos antigos, cuja memória me havia apagado da mente há muito.
No meu apartamento caminhei a noite toda de uma ponta a outra do carpete. Bebi uma garrafa inteira de Xarope de Cássis, e comi toda uma caixa de bombons. O sono havia dado lugar a excitação. Eu buscava em todos os cantos da minha cabeça, uma mínima pegada ou pista que pudesse trazer à tona toda a história.
Minha esposa, a mais bela de todas, preocupada com minha sanidade, por diversas vezes apareceu na porta do quarto para uma pequena olhada felina.
Finalmente tudo me veio como um raio! A lembrança toda. As imagens se projetavam diante dos meus olhos. Cada detalhe, cada fala, cada personagem, tudo brilhando em cores vivas.
E foi então que me veio a maior das decepções: a história não era boa e nem digna de uma crônica.
Peço sinceras desculpas a vocês. Prometo da próxima vez escrever alguma coisa melhor.