Coisa de pobre

Aqui estou eu mais uma vez nas minhas divagações. Mas dessa vez quem me dera ser apenas divagações! Estava no ponto do ônibus esperando o ônibus da Real e como sempre entediada pela espera, pensava eu. Mas meu tédio em esperar era muito simples. O tédio maior foi ouvir aquela frase “A primeira vez que vi Bruna fazer coisa de pobre”. É, foi isso mesmo que ouvi de duas garotinhas que tinham entre 10 e 11 anos de idade conversando no momento que a coleguinha entrou no ônibus. Fiquei quieta, pensativa e logo estourei “O mundo está perdido, uma criança com essa mentalidade”.

Coisa de pobre! Se com a coleguinha elas dizem isso, imagina com os demais? A maioria da população anda de coletivo. Essa maioria acorda cedo ,passa 3 ou 4 horas dentro do coletivo para trabalhar, muitas vezes, na casa dos ditos ricos. São os pobres que lavam; passam, consertam, reformam, suam para cumprir com suas obrigações, ou por que melhor dizer R$ 3,30. Isso mesmo R$ 3,30, esse é o valor do coletivo e do quilo de feijão. Mas isso elas não sabem, porque se soubessem teriam valorizado a coisa de pobre! Coisa de pobre! Isso ainda não saiu da minha cabeça! Coisa de pobre! O que significa isso? Quem são os pobres? Aqueles desprovidos de bens materiais ou aquelas garotinhas pobres em espírito?

Se for o primeiro; ainda bem, porque amo coisa de pobre, quem não ama? Virar o botijão para ver se tem gás, rapar a panela de arroz, comer pão com mortadela, colocar bombril na TV, pendurar roupas em frente da casa, gritar alto para chamar o vizinho e outras coisas que só um pobre tem. Pegar ônibus lotado, ser empurrado no coletivo, pedir para o motorista parar e ele esquecer. Ah! Quem é o brasileiro que não viveu esse estado de ser pobre. Andar de coletivo? Isso não é desonesto, desonesto é ter que pagar R$ 3,30 no coletivo e não ter como comprar o quilo de feijão. Desonesto é ouvir esse discurso de uma criança e vergonhoso em saber que é um pensamento reiterado de seus pais. Fico, por fim, pensando como serão aquelas garotinhas quando crescerem.

Torço para não ter nenhum pobre perto delas. Não por pena delas, mas pena dos pobres por terem que conviver com pessoas tão pobres em espírito, tão pobres em pensamentos, tão pobres em alma, tão pobres de vida, tão pobres em existência. Deus me proteja, me livre e guarde de pessoas, ou como não dizer, de pais e crianças como essas.

Rita Queiróz
Enviado por Rita Queiróz em 02/06/2022
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