INDICADOR DE DEUS (BVIW)

 

Quando tudo era mais sem pressa, bem diferente de hoje com modernidade a galope, as pessoas costumavam ser mais observadoras. Nada fugia do olhar atento e admirado com as belezas e os fenômenos do mundo. A pressa subtraiu muito dessas magias.

 

Havia o azarento. Kita dizia querer mudar sua vida, mas a sorte nunca lhe paquerava. Vivia lamentando pelos infortúnios. Rapaz de coração generoso, mas azarado demais! Nem com as tantas orações que fazia nem se carregasse patuás, trevos-de- quatro-folhas, pés de coelhos e outros amuletos dariam jeito em sua urucubaca.

 

- Espia lá para baixo, Senhor, tenha dó! – Rafael tinha talento em querer ajudar a curar coração alheio.

 

- Está certo, concedo-lhe um dedinho de prosa. Desce até lá, arcanjo! Converse com ele e o inspire a ser criativo. Depois ajeite o que precisa ser consertado, o que ele julgue ruim para si.

 

Parece lenda ou tradição, dessas de boca em boca, passadas de geração em geração, mas o fato é, depois de uma ideia, Kita deu uma alavancada na vida. Da água para a montanha. Deixou o Litoral e se mudou para a Serra. Tornou-se o maior Historiador da região. Ocupou cadeira na Academia Brasileira de Letras. Ganhou fama e prestígio. Dizem, os mais chegados, que Deus emprestou, por um dia, o próprio dedo para que o rapaz reescrevesse a sua vida. Agora a gente entende a razão da mudança promissora que ocorreu no enredo de Kita!

 

Será que Deus me empresta seu indicador por uma horinha?

 

 

 

Tema proposto pelo BVIW - Crônica poética, tema livre.