Quanto vale vinte e cinco décimos?
Por vinte e cinco décimos o aluno ficou de recuperação. Por vinte e cinco décimos o professor trabalhou além, gastou mais alguns minutos de sua dura rotina. Por vinte e cinco décimos o estudante não realizou seu projeto de vida. Por vinte e cinco décimos o jovem não trabalha no que gosta. Por vinte e cinco décimos... Por vinte e cinco décimos...
O dia exaustivamente esperado era o último dia do 2º ano de pandemia do coronavírus no Brasil. Sabia que a disputa era de “gigantes”, contudo tinha esperança de conseguir a tão sonhada vaga de mestrado já três vezes abortada.
Logo cedo da manhã, alguém postou no grupo de aspirantes às vagas no Brasil o resultado.
Mais que depressa acessei o site e conferi a lista. O meu sonho tinha paralisado na 15ª posição. Para o meu polo havia sido ofertada 13 vagas.
Depois da dor que dilacerava o peito de tristeza, passei horas e horas analisando nos outros polos onde haveria uma vaga ociosa para eu concorrer. Não me conformava que por vinte e cinco décimos tivesse “perdido” a oportunidade de estudar o mestrado dos meus sonhos.
Após longa análise descobri que havia vagas ociosas em dois polos bem distantes do meu Piauí. Não pensei duas vezes, pois estava decidida, uma vez que determinada sempre fui, senão veja só: de setembro a dezembro estive no front -lendo, escrevendo, relendo e reescrevendo o memorial acadêmico, projetando e simulando a entrevista na ceia de natal. Ensaiei cada palavra dita na sabatina com aquelas três professoras doutoras da UESPI. Mas, valeu apena cada palavra não dita também, pois atingi a nota máxima naquela etapa, porém isso não bastou para eu estudar meu mestrado no meu estado. Inscrevi-me para as almejadas vagas ociosas, almejadas pelos concorrentes do Brasil inteiro. Foram poucos dias de espera, porém longos dias de sufoco e agonia, aquela expectativa que maltrata o corpo e a mente.
No dia do resultado, bem cedo, acessei o portal da Universidade do Rio Grande do Norte e lá estava a tão esperada relação. Pulei, chorei, orei, gritei, agradeci aquela 2ª colocação de duas vagas para o polo da Universidade Estadual de Londrina/Paraná.
Passando um pouco a primeira emoção, visto que ela perdurará para sempre, eu pus-me a pensar que vinte e cinco décimos, vale o tamanho do sonho de cada um. E o sonho de cada um, não tem preço.
Clemilda Sousa